Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Dante Milano. Quem?

Dante Milano (1899-1991) foi um poeta que, por perfeccionismo, nunca teve pressa de se publicar

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Em 1922, o carioca Dante Milano, 23 anos, era admirado por Manuel Bandeira, Alvaro Moreyra, Sergio Buarque de Hollanda e turma. Eles não se conformavam com que Dante, por nunca dar seus poemas por terminados, continuasse inédito. Quando enfim se dignou a publicá-los, em 1948, foi uma festa. Até então, limitara-se a produzir crônicas para jornais, onde se liam achados como estes:

“Dia a dia. Todo dia um pouco de vida. Só se vive aos poucos. O pouco é tudo”. “Místico é o sujeito que quer gozar com a alma em vez de gozar com o corpo”. “Pensar é um ato que põe em dúvida a estrutura de tudo”. “O pensamento humano pode criar os maiores monstros sem remorsos”. “Qualquer sujeito sem graça, mas aplicado, pode ser um bom gramático ou um bom historiador. Mas uma bailarina representa muito mais. Parecendo frívola, é muito mais profunda”.

“Muitos que não gostavam de arte moderna agora gostam. Antes pensavam não gostar. Agora pensam que gostam”. “Poesia tem a sua hora. Nunca de manhã. No princípio da tarde ela vem vindo. A noite é o grande poema. E vai até de madrugada”. “Palhaço é quem teve a coragem de perder a própria personalidade para tornar-se igual aos outros”.

“Entre quem tem razão e quem não tem razão é possível evitar a luta. Mas, quando ‘ambos têm razão’, a luta é inevitável. Só ela ditará a razão do mais forte”. “Se vais desaparecer, para que a eternidade?” “Tirando a mulher, o resto é paisagem”. “Estou só. Não posso fazer mal a ninguém”.

E, se você quiser uma amostra da poesia de Dante Milano, eis seu poema “O Beco”, de algum momento entre 1922 e 1948: “No beco escuro e noturno/ Vem um gato rente ao muro./ Os passos são de gatuno./ Os olhos são de assassino.// Esgueirando-se, soturno,/ Ele me fita no escuro./ Seus passos são de gatuno./ Os olhos são de assassino.// Afasta-se, taciturno./ Espanta-o o meu vulto obscuro./ Meus passos são de gatuno./ Meus olhos são de assassino”.

O poeta Dante Milano por Portinari no começo dos anos 30
O poeta Dante Milano por Portinari no começo dos anos 30 - Reprodução

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