Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

Soberania de araque

Aqui vão sugestões para se desenhar um mapa do Brasil que não pertence mais ao Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sim, são mais de oito milhões de quilômetros quadrados de território nacional. Mas de quantos a nação detém a soberania? Soberania é onde o Estado entra e sai à vontade, dita normas e se guia por elas, faz a sua parte e espera o mesmo dos cidadãos. Afinal, a nação diz respeito a todos, não a feudos particulares com regras próprias. Mas é isto em que se transformou o país —um amálgama de cercadinhos dominados por grupos anônimos a que têm de se submeter milhões de brasileiros.

Já é possível desenhar um mapa do Brasil demarcando os lugares em que a soberania tornou-se privilégio desses grupos. Dele constariam não apenas os bairros e comunidades das cidades nas mãos da milícia e do tráfico, mas também suas extensões na vida nacional. Os presídios, por exemplo —se medidos em metros lineares, quantos milhares de quilômetros de celas e pátios já não estão fora do controle de seus ditos administradores? E os tribunais, de que saem as ordens para abrir a porta da frente e soltar chefes que nunca mais serão vistos? E os quartéis, de onde escapam armas por atacado?

O país terá soberania sobre o Congresso Nacional? Não me refiro às tramoias que nos são impostas em proveito da prosperidade pessoal de seus membros, mas à própria segurança do bordel —ou o ministro da Justiça não teria hesitado em visitá-lo na semana passada temendo levar um tiro.

Quem é o soberano nas terras tomadas por grileiros, garimpeiros ilegais, desmatadores, contrabandistas e assassinos de indígenas e ativistas? E como o Estado deixou que surgissem milhares de cracolândias pelo país? A de São Paulo não era uma advertência óbvia?

Quando se fala em milícias, o Rio também é um alvo óbvio. É fácil desenhar o Cristo em meio a chamas e tiroteios —já foi feito umas mil vezes. Mas de que importa agora só apontar o dedo para onde tudo começou, e não para onde vai terminar?

Grupo de usuários na esquina da rua dos Gusmões com a av. Rio Branco, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.