Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa
Descrição de chapéu Europa União Europeia

Anos nem tão gloriosos assim

Muito do crescimento dos 30 anos gloriosos foi recuperação dos anos desastrosos

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É comum acreditar que os 30 anos entre o fim da Segunda Guerra Mundial e meados da década de 1970 tenham sido "gloriosos". O motivo é claro. A taxa de crescimento, principalmente dos países europeus, foi muito alta. Adicionalmente, foi um período de grande desenvolvimento do Estado de bem-estar e de avanços na área social.

O que muitas vezes se esquece é que os 30 anos que antecederam os anos gloriosos foram desastrosos. Duas guerras mundiais, com uma Grande Depressão entre elas.

Assim, muito do crescimento dos 30 anos gloriosos foi recuperação dos anos desastrosos, principalmente na Europa. Processo que os estatísticos chamam de reversão à média.

As quatro primeiras linhas da tabela apresentam a taxa de crescimento por ano do produto por habitante para os EUA, a Alemanha, o Reino Unido, a França e a Itália, para quatro períodos, entre: 1914 e 1976, 1914 e 1946, 1947 e 1976 e 1977 e 2018. As informações foram obtidas na base de dados de Maddison.

Fica evidente que as taxas mais elevadas de crescimento nos 30 anos gloriosos compensam as taxas bem mais baixas para os 33 anos anteriores. Por exemplo, a Alemanha cresceu 6% ao ano nos 30 anos gloriosos. Esse crescimento espetacular compensou o recuo de 1,5% ao ano nos 33 anos anteriores.

Se olharmos o período todo, o crescimento de 2% ao ano é igual ao ocorrido na Alemanha ao longo da era neoliberal, de 1977 até 2018. Argumentos equivalentes, com variações, aplicam-se aos demais países.

Cédulas de euro - Gabriel Cabral - 24.jan.2019/Folhapress

França e Itália, que foram um pouco mais refratários do que a Alemanha em reformas de liberalização dos mercados, cresceram um pouco menos na era neoliberal. Evidentemente nada se pode afirmar com relação ao bem-estar social. É perfeitamente possível imaginarmos que o menor crescimento foi o preço justo a pagar por uma maior oferta de seguro social.

Nas quatro linhas na parte inferior da tabela está representado, para cada um dos países europeus e para o ano-base de cada um dos períodos, o produto por habitante relativo ao mesmo indicador da economia americana, que representa a fronteira tecnológica mundial.

Se lembrarmos que o período de transição entre o fim dos 30 anos gloriosos e a era neoliberal foi de estagnação da produtividade com aceleração inflacionária, entendem-se os motivos de as democracias escolherem políticas de liberalização dos mercados.

Parece que há demanda social para que o pêndulo se volte para preocupações maiores com equidade e seguros públicos. Anos de piora da desigualdade nos países centrais possivelmente gerarão pressão política por aumento da carga tributária e dos seguros sociais. A ver.

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