Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa
Descrição de chapéu mercado de trabalho

Pleno emprego nos anos 2000?

Dados sugerem que não havia ociosidade no mercado de trabalho

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Há duas semanas reagi neste espaço ao artigo de André Singer e Fernando Rugitsky. Argumentei que a economia operou a pleno emprego nos anos 2000. Empreguei uma informação da IFI (Instituição Fiscal Independente do Senado), de que o hiato de recursos no período fora positivo. Hiato de recursos positivo é a forma como os macroeconomistas chamam a situação da economia quando ela opera além da plena capacidade.

Assim, discordei da afirmação deles no artigo original, de que o estudo da IFI mostrava que a política fiscal tinha contribuído para elevar a taxa de crescimento. O estudo da IFI mostrou apenas que houve impulso fiscal positivo.

Segundo os autores, "ocorre que a identificação da capacidade de crescimento de uma economia ou, para usar o termo técnico, de seu produto potencial, é sabidamente controversa. Mais: no caso concreto, os dados do mercado de trabalho não sustentam a ideia de que a economia estivesse com ‘pleno emprego’, especialmente no início do período mencionado pelo articulista".

Trabalhadores em busca de vagas fazem fila durante Mutirão do Emprego em SP - Danilo Verpa - 16 mai.2022/Folhapress

Apesar de os dados da IFI indicarem hiato positivo —basta olhar o gráfico 2 do estudo citado na resposta a mim—, os autores apontam que havia ociosidade no mercado de trabalho. Aí tenho dificuldade de acompanhá-los. Se o hiato da IFI era positivo, como poderia haver ociosidade do trabalho?

A figura abaixo apresenta os cálculos de meu colega de Ibre Bráulio Borges, da taxa de desemprego que mantém os salários crescendo no mesmo ritmo da produtividade do trabalho. Essa é a taxa natural de desemprego, ou a taxa de desemprego que não acelera a inflação. Como o nome sugere, se a taxa de desemprego for menor do que a natural, a inflação acelerará permanentemente.

Os dados são claríssimos: entre o primeiro trimestre de 2004 e o segundo de 2015, a taxa de desemprego observada correu aquém da taxa natural. Foi por isso que, ao longo desse período, a inflação acelerou, as exportações líquidas pioraram, os salários subiram além da produtividade e a rentabilidade do investimento reduziu-se.

O leitor pode estranhar que a taxa natural tenha sido tão elevada no período. A taxa natural de desemprego é dada pelas regras de operação da economia, ou seja, pelo marco legal e institucional.

Há evidências de que, com a reforma trabalhista, a taxa natural está em queda no Brasil. Adicionalmente, dados recentes muito positivos do desempenho do mercado de trabalho, com forte geração de empregos, inclusive formais, sugerem que deve ter havido uma quebra estrutural no funcionamento do mercado de trabalho.

​Somente reformas microeconômicas e a melhora da qualidade do sistema público de educação conseguirão reduzir a taxa natural de desemprego.

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