Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Samuel Pessôa
Descrição de chapéu PIB inflação juros

Olhando para a frente e para trás

Em 2023, a economia deve crescer 1%, a inflação fechará na casa de 5% e o ciclo de queda de Selic deve se iniciar no terceiro trimestre

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Última coluna do ano. Momento em que faço o balanço do cenário que tracei no final do ano anterior (2021) para este que se encerra, 2022. E em que desenho o cenário para o ano que se inicia, 2023. Pensava que o crescimento iria ser entre 1-1,5%, que a inflação iria fechar em 5,5% e que o câmbio ao longo do ano iria se apreciar.

O crescimento foi o dobro do esperado, 3% em vez de 1,5%. A inflação deve terminar na casa de 5,6% e o câmbio, que no final de dezembro de 2021 rodava a R$ 5,70 por dólar fecha o ano em R$ 5,30.

A surpresa positiva na atividade econômica veio acompanhada de uma fortíssima surpresa positiva do mercado de trabalho. Nos últimos 12 meses terminados em novembro, foram criados 2,17 milhões de postos de trabalho formais. A taxa de desemprego terminará o ano na casa de 8%, a menor desde o primeiro trimestre de 2015.

Circulação de consumidores no comércio de São Paulo foi afetada pelo ano inicial da pandemia - Rivaldo Gomes - 10.jun.20/Folhapress

Houve uma surpresa inflacionária, a Guerra da Ucrânia, e outra desinflacionária, as desonerações promovidas por Bolsonaro. Diversas delas serão corretamente revertidas em 2023. Elas foram eleitoreiras. As duas surpresas se cancelaram e o número final ficou perto do esperado.

O câmbio se comportou bem em linha com o esperado, com a diferença que esperávamos uma valorização adicional após a eleição. O discurso de confronto de Lula com o mercado impediu essa outra rodada de valorização.

Para 2023, a economia internacional deve desacelerar muito e o preço das commodities deve cair. Em consequência o real enfraquecerá –quando os preços das commodities caem, o câmbio desvaloriza– e os termos de troca devem cair. As forças desinflacionárias –queda do preço das commodities, aumento da ociosidade na economia mundial e perda de renda do agronegócio brasileiro– devem superar o impacto inflacionário de uma possível desvalorização do câmbio, que não é certa.

A economia internacional ajudará o Banco Central a entregar a meta inflacionária de 3% em 2024 e atrapalhará a Secretaria da Receita Federal a arrecadar. A queda das commodities afetará negativamente a receita.

Para a economia doméstica, há dois cenários. No primeiro, Haddad executa menos do que o espaço dado pela PEC da Transição, estabelece uma regra fiscal que sinalize queda da dívida pública em horizonte não excessivamente longo e consegue aprovar algum aumento da carga tributária.

Esses três movimentos produzirão uma política fiscal neutra ou levemente contracionista e não atrapalharão o BC na busca da meta inflacionária. Adicionalmente, ancorarão as expectativas e poderão promover até uma valorização da moeda, que pode ser maior ou menor em função do quadro internacional. A economia deve crescer 1%, a inflação fechará na casa de 5%, a caminho da meta em 2024, e o ciclo de queda de Selic deve se iniciar no terceiro trimestre.

No cenário negativo, falham os esforços de Haddad na contenção do gasto em 2023, da elevação da carga tributária e do estabelecimento de uma regra fiscal crível. O câmbio se desvaloriza ainda mais, o BC não consegue cortar juros e pode até ser obrigado a elevar. Nesse cenário negativo, o crescimento em 2023 não será muito diferente daquele do cenário positivo. A taxa Selic será maior e a inflação também. A economia apanhará muito em 2024.

Após começar com pé trocado, priorizando aumento do gasto, Lula marcou um gol na política construindo uma coalizão mais abrangente do que as vigentes no ciclo petista anterior. Na política, pode-se dizer que houve aprendizado. Um passo para estarmos no cenário positivo foi dado.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.