Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa

Inflação, expectativa de inflação e câmbio

Juros estão elevados porque a inflação está alta, e as expectativas, desancoradas

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Tem sido comum as pessoas alegarem que o Banco Central não deveria combater a inflação pois ela é fruto de choques de oferta que irão se dissipar.

É fato que a inflação surgiu dessa forma. Mas o maior sinal de que a inflação hoje não é mais fruto de choques de oferta é que os serviços excluindo passagens aéreas rodaram nos últimos três meses a 5,7% (índice em 12 meses). E o núcleo de serviços, que desconsidera os itens mais voláteis, rodou, nos últimos três meses, a 6,1%, acima, portanto, da inflação de preços livres, que rodou, nos mesmos três meses, a 5,8%.

Ou seja, aqueles itens da inflação, como os serviços, que não são diretamente afetados por choques de oferta têm rodado bem acima da meta.

Entrada da sede do Banco Central, em Brasília - Antonio Molina - 11.jan.22/Folhapress

Adicionalmente, o mercado de trabalho está muito apertado. Com já tratei em outras colunas, estamos, provavelmente, a pleno emprego.

Para piorar a vida do BC, as expectativas de inflação 12 meses à frente, coletadas pela pesquisa Focus conduzida semanalmente pela autoridade monetária, têm se elevado e fecharam janeiro a 5,4%, bem acima da meta. Ainda segundo o Focus, a inflação prevista entre agosto de 2023 e julho de 2024 encontra-se em 4,4% —novamente, bem acima da meta.

Há o argumento de que a pesquisa Focus é conduzida pelo BC com economistas que trabalham no mercado financeiro. A inflação seria, portanto, uma profecia autorrealizável. Nessa visão, os economistas de mercado desejam que os juros sejam elevados, para ganhar mais dinheiro. Assim, respondem à pesquisa superestimando a inflação, e, como todos acabam por avaliar que a inflação elevar-se-á, ela acaba por elevar-se.

Essa tese não faz sentido, pois a expectativa do consumidor, levantada pela Sondagem do Consumidor conduzida pelo FGV Ibre, se comporta essencialmente como a expectativa Focus. Ela apresenta os mesmos comovimentos, com a diferença de que a inflação esperada pelo público em geral é sempre superior à inflação esperada pelos economistas que trabalham no mercado financeiro.

Isto é, os juros estão elevados pois a inflação está elevada e desancorada. As expectativas sinalizam que a inflação não atingirá a meta no horizonte visível.

Mudando de assunto, na semana passada apresentei umas contas que sinalizavam que o real, entre 19 de outubro (antes, portanto, das eleições) e 2 de fevereiro, valorizou-se em R$ 0,23 ante o dólar. Empreguei metodologia de controle sintético com outras moedas e argumentei que, se não fosse o falatório de Lula, a valorização seria ainda maior. Em vez dos R$ 5,04, o real estaria cotado, em 2 de fevereiro, a R$ 4,8.

Leitores me criticaram, alegando que a escolha dos grupos de controle não foi feita de forma sistemática e estatisticamente correta. A crítica procede em parte. É uma metodologia simples adequada a um profissional da Faria Lima que toda semana tem que conduzir uma reunião de cenários macro.

Livio Ribeiro, meu colega do FGV Ibre, correu em meu socorro e refez os cálculos, para a mesma janela de 19/10/22 e 2/2/23, empregando um modelo fundamentalista para determinação a curto prazo do câmbio. A hipótese do exercício é que a variação do risco-país e seu impacto sobre o câmbio que não se deve a fatores internacionais é devida à turbulência doméstica. O exercício obtém resultados em linha, de fato um pouco mais intensos, com os obtidos com os sintéticos.

Assim, parece que, efetivamente, a incontinência verbal de Lula tem cobrado um preço na forma de desvalorização da moeda. De fato, o fechamento do câmbio na sexta (10) acima de R$ 5,2 indica que o problema persiste.

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