Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa
Descrição de chapéu Banco Central

Dólar poderia estar a R$ 4,80

Tudo indica que PEC da Transição e falatório de Lula têm efeito de R$ 0,25 no câmbio

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Desde que o presidente Lula ganhou as eleições, houve a decisão de aumentar o gasto público em aproximadamente R$ 200 bilhões em relação ao que estava no Projeto de Lei Orçamentária para 2023, que Paulo Guedes enviou em agosto de 2022 para o Congresso Nacional.

Além da elevação do gasto público, Lula tem confrontado o mercado financeiro, com pesadas críticas aos juros praticados pelo Banco Central, além de ter criticado a independência da instituição.

A atitude de confronto de Lula surpreendeu o mercado. No entanto, desde outubro de 2022 há um processo de valorização do real ante o dólar. Por exemplo, de 19 de outubro de 2022 até 2 de fevereiro, quinta-feira passada, o real valorizou-se em R$ 0,23, com o câmbio saindo de R$ 5,27 para R$ 5,04. Assim, aparentemente não tem havido custo para Lula de seus ataques ao mercado financeiro nem ao Banco Central.

Lula durante evento com as centrais sindicais no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (18) - Gabriela Biló/Folhapress

A grande dificuldade é que fatores internacionais afetam também a cotação da moeda. E há sinais de que tem havido um movimento de perda de valor do dólar americano em relação a todas as moedas.

Assim, é necessário sabermos quanto da valorização do real no período deveu-se a dinâmicas internas e quanto a dinâmicas externas.

Uma metodologia para responder à questão do parágrafo anterior é considerar grupos de controle formados por conjunto de países. Considero três grupos de controle: países desenvolvidos, países emergentes e países produtores de commodities. A Austrália, por exemplo, está no primeiro e no terceiro grupo; o Chile está no segundo e no terceiro grupo. Países com política econômica muito instável, como Argentina e Turquia, não são considerados.

Para cada grupo de controle construímos uma única "taxa de câmbio" comum a todas as moedas dos países do grupo. Ela tem a característica de ser a combinação das taxas de câmbio que melhor descreve a variabilidade comum das moedas do grupo.

Ficamos, portanto, com três "taxas de câmbio", uma para cada grupo. Em seguida correlacionamos cada uma delas com a nossa moeda. O resultado é uma taxa de câmbio para o Brasil chamada de "sintético". Temos, portanto, o sintético do real de países desenvolvidos, o de emergentes e o de países produtores de commodities. Três sintéticos, portanto.

O sintético representa o comportamento do real se ele acompanhasse a média dos países que compõem cada um dos grupos.

Na janela entre 10 de outubro de 2022 a 2 de fevereiro, quinta-feira passada, vimos que o real se valorizou em R$ 0,23 por dólar. A valorização do sintético de desenvolvidos foi de R$ 0,49, a de emergentes, de R$ 0,69, e a de países produtores de commodities, de R$ 0,47.

O sintético de países emergentes está muito sensibilizado pelo câmbio dos países emergentes do Leste Europeu, que apresentaram, recentemente, fruto da melhora do problema da escassez de gás, uma queda de risco mais acentuada. Assim, se considerarmos os outros dois sintéticos, o real valorizou-se em cerca de R$ 0,25 por dólar a menos do que os sintéticos.

Ou seja, tudo indica que o falatório de Lula e a piora fiscal com a emenda constitucional da Transição têm custo de R$ 0,25 por dólar na cotação da moeda brasileira. O real poderia ser cotado hoje a R$ 4,80 por dólar. Seria uma ótima ajuda para o BC iniciar um ciclo de redução da taxa de juros.

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