Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Para patrocinadores, maconha não pode, mas ser antivacina pode?

Marcas são capazes de coisas que às vezes nem o governo de um país consegue

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Patrocinadores esportivos são como uma força da natureza. Ou maior, porque não são naturais, apesar de se moverem de acordo com a maré.

Eles são capazes de coisas que às vezes nem o governo de um país consegue. E são rigorosos, porque perder consumidores é muito pior do que perder um atleta. Imagem é tudo.

Lance Armstrong sentiu a ira dos patrocinadores assim que confessou o uso de doping em boa parte da carreira no ciclismo. A Nike, associada ao atleta, o abandonou na hora… assim como os outros. Boom.

Tiger Woods, astro do golfe, se envolveu em um escândalo sexual e admitiu que traiu a esposa com várias mulheres. Tag Hauer, Gatorade e Gillette não gostaram. Boom.

Na época astro do Manchester United, o atacante Wayne Rooney traiu a mulher... grávida. Coca-Cola disse que não pode. Boom.

Michael Phelps ganhou 28 medalhas olímpicas na natação e resolveu fumar maconha para dar uma relaxada. Para a Kellog’s, não deu barato. Boom.

Michael Vick, famoso quarterback já aposentado, envolveu-se com rinhas de cachorros. Além de todas as sociedades protetoras dos animais, Nike, Reebok e Coca-Cola não gostaram. Triplo boom.

Em quase todos os casos, os astros do esporte fizeram bobagens que prejudicaram apenas eles. Arranharam a imagem, e pagaram o preço. Financeiro também.

Mas e Novak Djocovid? Digo, Djokovic? Enquanto não se imuniza e diminui a importância da vacina para seus milhões de seguidores, ele faz mal não só a ele mas para muito mais gente. E onde estariam os patrocinadores do tenista com seus cheques gordos agora?

Servir de garoto-propaganda contra a vacina não deveria ser pior do que usar maconha ou trair a cara-metade (com todo respeito à cara-metade)?

Muito antes da vacina, Djokovic promoveu um torneio amistoso em seu país. Ele e a mulher se contaminaram. Talvez muitos torcedores também. Mas nenhum patrocinador deu pito.

Na Austrália, Djokovic não tomou vacina nem chá de semancol. Se tivesse tomado —o chá—, teria a dignidade de dizer ao menos algo como, "OK, entendo as regras, não compactuo com elas e me retiro do torneio". Mas não, como bom negacionista, tentou impor a sua vontade diante de um país inteiro. E para outros negacionistas, ganhou ares de mártir.

Djokovic foi deportado da Austrália após tentar jogar no país sem vacina contra a Covid
Djokovic foi deportado da Austrália após tentar jogar no país sem vacina contra a Covid - Loren Elliott - 12.jan.2022/Reuters

Djokovic já faturou cerca de US$ 150 milhões em sua carreira (R$ 813 milhões na cotação atual) usando a raquete. Mas ganha muito mais com patrocinadores. Só em 2021, de acordo com a Forbes, foram cerca de US$ 30 milhões (R$ 162 milhões), cortesia de Lacoste (o principal), Peugeot, Hublot, Asics, Raiffeisen Bank (um banco austríaco), entre outros.

Depois de muita pressão nas redes sociais, a Lacoste resolveu chamar o tenista "para conversar" nesta semana. Palpite: se tiver alguém na sala com uma seringa com o logo da Lacoste ameaçando tirar o patrocínio, Djoko toma a vacina. Aliás, Lacoste não é aquela marca que tem a figura do crocodilo, o primo do jacaré, como símbolo? Estaria o tenista com medo de se transformar no réptil?

Tuíte de André Rizek, jornalista do SporTV, que vale a reprodução: "Vejo que Alexandre Pato elogiou Djokovic por ‘não se submeter à picada experimental’. Bem... diria que experimental, mesmo, é bater pênalti com cavadinha contra o Dida. Jamais um órgão sério de saúde autorizaria um pênalti daqueles.

E só lembrando que foram os patrocinadores, após pressão social, que ameaçaram o Santos quando o clube tentou no ano passado recontratar Robinho, atacante condenado por estupro.

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