Qual o tempo de validade de um título no futebol? Se você, querido leitor ou querida leitora, pensou em um ano foi porque ponderou apenas no aspecto matemático da resposta.

Neste fim de semana, troféus foram levantados em diferentes cantos do país, muitos deles com o dirigente querendo aparecer mais que o capitão (uma maldição brasileira). Mas cada um tem o seu próprio período antes de expirar.

O melhor exemplo vem de Minas. O Atlético Mineiro foi um dos poucos campeões a vencer as duas partidas da decisão. E, além da final do Carioquinha, foi o único que precisou enfrentar um time da Série A pela taça, no caso, o intrépido América-MG.

Então é só festa para Hulk e os outros vingadores, certo? Errado. A conversa pós-título do professor Eduardo Coudet era de quem estava com o cargo ameaçado. "Quero continuar aqui", repetia sorrindo.

O mesmo Coudet deu uma entrevista espinafrando a diretoria poucos dias atrás, depois da estreia com derrota na Libertadores, o que rendeu ao técnico um banho de cerveja de um copo arremessado da arquibancada —este escriba tem também um blog sobre cerveja e não compactua com o desperdício da bebida, mesmo na versão zero álcool.

A validade do título mineiro vai até o dia 18, data do segundo jogo no torneio sul-americano. Uma nova derrota e, provavelmente, bye bye Coudet. Antes disso tem ainda uma partida contra o Brasil de Pelotas, pela Copa do Brasil. Um empatezinho neste jogo vai azedar a cerveja.

Em São Paulo, usando a ideia do próprio míster Abel Ferreira, o Palmeiras evitou a vergonha diante do Água Santa e passou por cima do rival. Até Flaco López fez gol. E alguém no Real Madrid deve ter recebido o fax: "Nosso Endrick fez um gol em cada jogo da final, sem crise". E quanto tempo vale o título palmeirense? O tempo que Abel permanecer no clube.

No máximo, derrotas precoces em Libertadores ou Copa do Brasil podem gerar um murinho pichado contra a presidente Leila por falta de reforços. Mas, lembrando, a bronca da organizada com a mandatária é mais carnavalesca do que futebolística.

E no Rio, quanto tempo vale o título do Fluminense conquistado após vitória contra o Flamengo por 4 a 1? A vida toda.

Jovens torcedores do Flu vão lembrar daqui a 40 anos que o seu time colocou o rubro-negro na roda quando o rival tinha o elenco mais caro do continente. Vão lembrar que Marcelo, no melhor estilo Raí (versão final do Paulista de 1998), jogou apenas a decisão e fez gol. E vão lembrar do toque de bola da equipe de Fernando Diniz e de sua celebração com cambalhota. É o Ted Lasso do Fluminense.

Com mais de 60 mil pessoas neste domingo de Páscoa, o Maracanã continua com os torcedores mais criativos. Um deles, flamenguista, carregava o cartaz "VP, por isso que Jesus não tinha sogra".

Vítor Pereira, o VP, ainda é o técnico do Flamengo enquanto esta coluna é escrita. Não sei se será até que ela esteja publicada na edição impressa desta terça (11).

Fato é que o míster —e a sogra?— não tem mais clima para continuar na Gávea. Mas, por uma questão simplesmente financeira, ele não pedirá demissão. Vai ficar até receber todos os seus direitos trabalhistas, com uns seis meses extras de plano de saúde (familiar).

Uma nova demissão vai obrigar o dirigente campeão de milhagem Marcos Braz a viajar à Europa de novo para conversar com Jorge Jesus, capengando no Fenerbahce, na Turquia (aparentemente ninguém tem Zoom ou WhatsApp).

Também é fato que não convém irritar a torcida do Corinthians como fez VP em sua saída do clube. A praga corintiana se provou poderosa.

No próximo fim de semana já tem Brasileiro. E ainda não dá para cravar os técnicos dos 20 clubes da Série A.