Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo

De Barbie, Copa feminina e bobos

As mulheres ocupam, com justiça, espaço em todos os setores, incluindo a transmissão esportiva

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A exemplo de milhões de pessoas ao redor do mundo, este escriba reservou um período do fim de semana para assistir ao filme-evento "Barbie".

Para agradar à criança da casa, foi escolhida uma sessão dublada já na noite de domingo. Não sou fã das sessões dubladas, mas a gente se acostuma. Minha companheira e a filha de 18 também foram, em uma rara exibição na qual os quatro tinham interesse.

Cada um a seu modo, todos se divertiram. Eu me deliciei com as piadas envolvendo o tolinho Ken tentando entender e praticar o patriarcado. Em algum momento ele questiona um executivo da Mattel se os homens ainda estavam no comando, ao que recebe a resposta: "Estamos, mas agora tem que ser mais na encolha" (ou pelo menos foi algo assim na dublagem).

Menos de 12 horas depois do filme, a TV estava ligada para a estreia da seleção brasileira na Copa feminina, contra o fraquinho Panamá. O jogo foi um 4 a 0 que poderia ser 7 a 1 devido à fragilidade das rivais. A goleira brasileira só foi citada com quase uma hora de bola rolando.

A bola esteve bastante na rede do Panamá na segunda-feira - Bai Xuefei/Xinhua

Essa diferença técnica era algo esperado na primeira fase do Mundial, o primeiro com 32 seleções —em 2019, eram 24. Com muitas equipes atuando neste nível pela primeira vez, era normal a disparidade. Marrocos tomou seis da Alemanha; Zâmbia caiu de cinco contra o Japão. Outras goleadas virão na primeira fase.

Aliás, veremos essa mesma diferença na Copa masculina em 2026, uma aberração com 48 seleções. Vai ter fila de gente rezando para cair no grupo da Nova Zelândia.

Voltando ao feminino, a Copa mostra que ainda temos alguns bobos no futebol. Porém os principais bobos não estão em campo.

O maior de todos é o grande pai, ou grande mãe, a Fifa. Assim como fez na Copa do Qatar, a entidade (entidade sempre me lembra alguns filmes arrepiantes) proibiu as capitãs de usar a braçadeira One Love, com cores do arco-íris, em apoio aos direitos LGBTQIA+. Portanto, fica claro que o problema não era exatamente da política restritiva do Qatar.

Nesta segunda, quando um repórter tentou perguntar sobre homossexualidade para a capitã de Marrocos, uma representante da Fifa interveio e não permitiu a pergunta por "ser política".

Os outros bobos estão na internet. Foi só começar a partida, e o Twitter apontou como assunto mais comentado o nome de Renata Silveira, narradora que comandou o jogo na Globo.

Entre um e outro elogio, a maioria dos comentários eram depreciativos, alguns falando mal inclusive da partida. Todos eram de homens, com alguns apelidos bem esquisitos. Nada disso, claro, abala o trabalho de Renata, que já tem um monte de "a primeira vez na TV" no currículo —assim como Ana Thaís Matos, que comentou a estreia.

O futebol feminino está em evolução, não só em campo. As mulheres ocupam, com justiça, espaço em todos os setores, incluindo a transmissão. Não sou fã de todas elas —mas a quantidade de homens comentando ou narrando de que não gosto é bem maior, e eles são bem menos achincalhados nas redes sociais.

Pelo Sportv, a dupla Bárbara Coelho e Renata Mendonça (antiga colunista desta Folha) batem um bolão ao trazer informações da Austrália. Na ESPN, a equipe in loco conta com o reforço da ótima Natalie Gedra, que arrasa na Premier League. Fernanda Gentil, que fez seu nome no jornalismo esportivo, antes de se mudar para o entretenimento, abrilhanta a CazéTV no streaming —canal que transmite mais jogos da competição. E tem muito mais.

Caso o Ken apareça para dar uma olhada nas transmissões esportivas daqui, vai ver que o patriarcado ainda domina o setor (e não é na encolha). Mas render-se é inevitável. Assim como dá para se acostumar à sessão dublada, que aprendam a ouvir a narração e o comentário femininos. Uma hora até os bobos da internet vão cansar.

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