Sergio Firpo

Professor de economia e coordenador do Centro de Ciência de Dados do Insper

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Sergio Firpo

O mercado de trabalho e as eleições

Aceitamos, com naturalidade, que mais da metade da força de trabalho seja de autônomos sem registro e de empregados sem carteira

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Esta campanha à Presidência da República tem sido marcada pela ausência de discussões aprofundadas sobre programas econômicos. Nos debates entre candidatos e em suas entrevistas e discursos há muito pouco, ou quase nada, sobre como pretendem lidar com o problema estrutural da baixa produtividade de nossa economia.

A informalidade, alta e crescente, do mercado de trabalho brasileiro tem papel relevante para explicar por que nossa produtividade, sobretudo a do trabalho, está estagnada há quase 40 anos. Aceitamos, com naturalidade, que mais da metade da força de trabalho ocupada seja formada por trabalhadores autônomos sem registro e por empregados sem carteira.

"Empreendedores" informais não têm acesso a crédito e têm maiores dificuldades de se inserir em cadeias produtivas de alto valor adicionado. Quando não há vínculos formais com os empregados, as firmas tendem a investir menos em treinamento de seus trabalhadores.

A alta informalidade do mercado de trabalho é um fenômeno não apenas nacional, mas comum a vários outros países da América Latina. Nossas instituições têm tido um papel importante em gerar os incentivos econômicos para a persistência da informalidade, com a qual convivemos há décadas, mas que com a pandemia, foi agravada.

Homem de óculos escuros e boné atrás de um carrinho com milho cozido
Vendedor ambulante no calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro. - Tércio Teixeira/Folhapress

O pós-pandemia traz um cenário tenebroso de aumento da segmentação nesses mercados de trabalho. De um lado, há uma parcela decrescente de trabalhadores formais inseridos em cadeias de produção de alto valor adicionado. De outro, há desempregados, desalentados e informais com dificuldades crônicas de reinserção produtiva.

Para fomentar o debate qualificado sobre essa temática, neste dia 20/09, no Insper, haverá um seminário internacional, com transmissão ao vivo, que contará com a ilustre presença de David Card, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2021.

David tem contribuições seminais na literatura econômica, sobretudo ao analisar o papel que instituições, como, por exemplo, a adoção do salário-mínimo, têm sobre indicadores do mercado de trabalho como desemprego e distribuição de salários.

Recentemente, David tem também estudado alguns aspectos do mercado de trabalho brasileiro. Em um de seus últimos artigos, ele e coautores calculam a perda de eficiência econômica associada à adoção de políticas de contratação que, conscientemente ou não, privilegiam trabalhadores brancos quando novas vagas são abertas.

O evento também contará com a presença não menos ilustre de Penny Goldberg, professora em Yale e ex economista-chefe do Banco Mundial. Assim como David, Penny tem trabalhos recentes sobre o mercado de trabalho brasileiro. Sendo um dos principais nomes na literatura de comércio internacional, ela tem estudado como a presença da informalidade afeta a desigualdade de renda e o bem-estar em uma economia como a nossa, que passou por um amplo processo de abertura comercial nos anos 1990.

Por fim, haverá uma sessão de discussão sobre políticas públicas voltadas ao mercado de trabalho com a presença de nomes que estiveram ou que estão à frente da tomada de decisão no Brasil, Colômbia e México.

Discussões profundas sobre temas relevantes têm feito falta para a formulação de propostas.

Há enormes desafios estruturais no mercado de trabalho no Brasil e na região. Quanto mais se souber sobre o tema, maior a chance de adotarmos as políticas mais eficazes para que possamos entrar na trilha de ganhos de produtividade, de crescimento econômico e de redução de nossas desigualdades.

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