Silvio Almeida

Advogado, professor visitante da Universidade de Columbia, em Nova York, e presidente do Instituto Luiz Gama.

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Descrição de chapéu Folhajus

Um domingo qualquer

Mais do que apontar os próximos ocupantes de cargos públicos, as eleições definirão a forma de nossa existência

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Muitas pessoas têm afirmado que o pleito eleitoral deste domingo é "o mais importante de nossa história". Não sei se é possível medir a relevância de um processo político tão complexo, ainda mais estando nele mergulhado. Como disse o filósofo Hegel, "a coruja de minerva levanta voo ao cair do crepúsculo", ou seja: a reflexão sobre um evento só pode ser feita em retrospectiva histórica.

De qualquer modo, é possível dizer com alguma segurança de que se trata de um momento decisivo. No próximo domingo vamos deliberar sobre os rumos do país e, ao mesmo tempo, sobre que tipo de pessoas queremos ser, que valor atribuímos à vida e como queremos marcar nossas trajetórias. Nesse sentido, é uma eleição particularmente existencial.

Urna eletrônica durante teste antes da lacração final - Rivaldo Gomes - 21.set.22/Folhapress

Em um momento como este a tergiversação e o silêncio não nos favorecem. E aqui não falo sobre ter dúvidas sobre nossas escolhas, pois estas dão o índice de nossa humanidade. Refiro-me ao fato de que, por estarmos flertando com o abismo, não há tempo para hesitação.

Estamos sob o governo de pessoas que já demonstraram que não tem qualquer compromisso com o Brasil. Um governo que desdenha do bem-estar, da saúde, da cultura e de tudo aquilo que nos faz ser um país. Que destrói a capacidade administrativa do Estado, que se apropria indevidamente do orçamento público e que multiplica a miséria.

Sob o governo de Jair Messias Bolsonaro, o Estado brasileiro que, mesmo em seus melhores dias, nunca foi muito generoso para com os mais pobres, transformou-se em um maquinário de ódio, de morte e de profundo desprezo pela vida. O Brasil está tomado por bárbaros que a cada dia arrancam um pedaço de nossa alma.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, ao se referir ao atual presidente, resumiu em poucas expressões como funcionam e do que são feitos os sujeitos que nos governam e que pretendem ainda permanecer no poder: "abjeto", "desprezível" e "a se evitar".

As eleições também falarão muito sobre como lidamos com a hipocrisia e a mentira. Eleitos na esteira do "combate à corrupção" e adotando uma postura "antissistema", mostraram-se os atuais ocupantes do poder pessoas que sequer existiriam no mundo da política sem se nutrir da corrupção mais ordinária e pedestre, como são exemplo as tais rachadinhas.

Já sua aparente revolta contra o sistema é absolutamente falsa. Refestelam-se no sistema que dizem combater e alimentam-se de sua parte mais podre, a ponto de sujar as calças com farofa e leite condensado.

São, portanto, notórios corruptos, dilapidadores do patrimônio público (deixem nossas praias em paz!), hipócritas, falsos profetas e profanadores das mais comezinhas liturgias civilizatórias. Domingo, dia 2 de outubro de 2022, é também sobre se queremos estar cercados (e dominados) por pessoas deste tipo.

Iremos decidir, enfim, sobre o que de fato entendemos por "democracia". Uma democracia que nos coloca periodicamente a costear o alambrado do fascismo, permitindo que homens do nível acima descrito tenha alguma relevância, precisa ser pensada criticamente, pois evidentes são seus problemas.

E necessitaremos estudar se um sistema político que permitiu a uma pessoa autoritária, incompetente, subserviente a interesses alheios aos do povo brasileiro e absolutamente ignorante acerca dos problemas fundamentais do país chegar à cabeça do Estado pode ser de fato considerado "democrático".

E pelo que observamos das recentes experiências globais, a reflexão crítica acerca do quão permeáveis são as ditas democracias ao avanço e desenvolvimento de pautas fascistas terá que ser feita não apenas aqui no Brasil, mas igualmente no restante do mundo.

Será, portanto, neste domingo, um domingo qualquer, na solidão das cabines de votação, que decidiremos sobre que país queremos ser, mas, para além disso, sobre qual valor e os sentidos possíveis da existência.

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