Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Descrição de chapéu juros Selic China

Crescimento desigual: até quando?

Sinais positivos vêm da desinflação continuada e redução no aperto do mercado de trabalho

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No ano passado, observamos um desvio grande entre as projeções para o crescimento da economia global e o que efetivamente se realizou. Para 2024, o risco de um pouso forçado ou de recessão diminuíram substancialmente, com o consenso de mercado movendo-se para um pouso suave. Isso dito, o crescimento tem se mostrado muito desigual entre os Estados Unidos e as maiores economias. Essa divergência chama a atenção e traz questionamentos sobre os riscos para o crescimento global deste ano.

Nos EUA, dados preliminares mostram que o PIB americano cresceu muito acima do potencial no último trimestre do ano passado e que o começo deste ano já tem uma assimetria positiva nas estimativas de 2024. Já na Europa, o Reino Unido entrou em recessão técnica no fim de 2023, enquanto na zona do Euro, apesar da grande discrepância entre países, o crescimento tem sido anêmico. Sua mais importante economia –a Alemanha– decepcionou, com um PIB negativo de -0,3% em 2023, e os sinais para este primeiro trimestre apontam para mais uma contração.

Robert Habeck, ministro da Economia da Alemanha, fala sobre a economia do país para 2024 - Ralf Hirschberger - 21.fev.24/AFP

Na Ásia, o Japão foi a surpresa negativa do final do ano, com uma queda forte do PIB no quarto trimestre, o que fez o país cair no ranking global das maiores economias do mundo, ficando em quarto lugar, atrás inclusive da Alemanha. Na China, ainda que o PIB de 2023 tenha ficado perto da meta do governo de 5%, a confiança dos investidores no crescimento está baixa –fato refletido na performance abismal do mercado acionário e nos indicadores de que o consumo tem decepcionado, além dos inúmeros problemas no mercado imobiliário, um dos pilares da economia chinesa.

Olhando para a frente, a desinflação global, a que assistimos desde a segunda metade de 2023, trouxe um otimismo em relação ao afrouxamento monetário global. E, com isso, a possibilidade de grande parte das economias apresentarem um crescimento mais forte ao longo de 2024 e, principalmente, em 2025. No entanto, esse não é um cenário sem importantes exceções.

Na China, a deflação e os juros baixos são uma realidade. Não há muito o que esperar da política monetária em termos de estímulos. Tampouco é esperado que o estímulo venha da política fiscal, que tem sido (e deve continuar sendo) utilizada com muita cautela. No Japão, diante de uma desvalorização bastante acentuada da moeda, o Banco Central está avaliando o fim de sua política de juros negativos, ou seja, na contramão do fornecimento de mais estímulos à atividade.

Na Europa, o começo e a extensão da queda dos juros não são triviais. O Banco Central Europeu vem alertando para o fato de os salários da região estarem crescendo bem acima da inflação e sem sinais de acomodação. Para a Alemanha, em especial, o buraco é mais embaixo, pois mesmo em um cenário de juros mais baixos, sem uma retomada mais forte de suas exportações será difícil estimular a produção da indústria nacional.

Nos EUA, os últimos números de inflação, depois de uma surpresa bastante positiva no mercado de trabalho, acenderam uma luz amarela em relação ao início dos cortes de juros. A resiliência da economia americana tem surpreendido todos, inclusive os discursos dos membros do Fed, que passou a indicar a intenção de afrouxamento da política monetária, mas sem pressa.

Os riscos positivos para o crescimento mundial existem e vêm de uma continuação da desinflação rápida, acompanhada de uma redução no aperto do mercado de trabalho (que permitiria uma queda de juros mais cedo e em ritmo mais significativo nos EUA e na Europa) ou, então, do adiamento das medidas de consolidação fiscal que os governos anunciaram para este ano e o próximo, possibilidade que deve ser considerada já que muitos países enfrentam crescentes pedidos de aumento de gastos públicos neste que é o maior ano eleitoral global da história.

Do lado negativo, uma maior persistência da inflação de serviços, ou ainda as consequências inflacionárias decorrentes das renovadas tensões geopolíticas (especialmente no Oriente Médio) que adiem o momento de queda de juros nos países desenvolvidos, podem pesar contra a atividade global.

No que tange ao Brasil, como qualquer emergente, apesar das nossas idiossincrasias, dependemos muito do que irá acontecer com o desempenho das grandes economias. Ainda que em um mundo cada vez mais polarizado, nos beneficiamos da busca pela diversificação das cadeias produtivas, temos uma grande dependência do ciclo de commodities e a extensão do relaxamento monetário doméstico dependerá do comportamento das taxas de juros globais.

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