Em 2015, a Guatemala foi às ruas para pedir a renúncia do então presidente de direita Otto Pérez Molina, acusado de corrupção. Foram semanas de protestos coloridos e liderados por jovens. A pressão foi tão grande que os congressistas iniciaram um processo de impeachment. Pérez Molina acabou renunciando. Ainda assim, foi julgado e condenado. E hoje continua atrás das grades.
Depois, foi a vez de Honduras. No mesmo ano, em Tegucigalpa, milhares saíram às ruas, à noite, por três meses, nas "marchas das tochas", provocando um impressionante panorama visual à distância.
Os hondurenhos revoltaram-se por conta de um desvio de verbas (de cerca de US$ 200 milhões) na área da saúde. O então presidente já era o direitista Juan Orlando Hernández (conhecido como JOH).
Pouco depois, a Justiça de El Salvador começou um processo contra um ex-presidente acusado de corrupção, Mauricio Funes, que governou pela esquerdista Frente Farabundo Marti para a Liberação Nacional.
Todos esses acontecimentos levaram analistas a rotular o que ocorria na região como o princípio de uma possível "primavera da América Central".
A ideia era otimista: essa região esquecida e pobre das Américas vivia agora um despertar democrático, depois de anos de guerras civis, governos corruptos e grande ingerência dos EUA.
Infelizmente, a primavera acabou de modo repentino e deu lugar a um tenebroso inverno. Nos três países que viveram um sopro de entusiasmo, hoje se veem máfias instaladas no poder e uma imensa influência dos EUA em sua política interna, exigindo que os governos resolvam, quase sem recursos, a crise da imigração —milhares deixam a região rumo aos EUA para fugir da violência das facções criminosas.
Na Guatemala, o governo eleito depois de Pérez Molina eliminou os esforços anticorrupção que permitiram trazer à tona os escândalos de 2015.
Em Honduras, a flama se apagou ainda mais rápido: Juan Orlando Hernández se reelegeu em eleições contestadas. Além disso, acumula acusações de participação em casos de corrupção e narcotráfico, sendo suspeito até de estar relacionado ao narcotraficante mexicano Joaquín "Chapo" Guzmán.
No último fim de semana, o presidente salvadorenho Nayib Bukele entrou no Congresso com o Exército para pressionar os parlamentares a aprovarem um empréstimo de US$ 100 milhões para um plano de segurança.
Em comum, os três países têm a pressão de Donald Trump para endurecer controles e bloquear a saída dos imigrantes, mesmo sabendo que isso penaliza boa parte da população local, vítima das "maras" (gangues).
Se há alguma boa notícia aqui é que essas três democracias jovens, mesmo com economias debilitadas por guerras e pela pressão dos EUA, têm tentado, com avanços e retrocessos, sair das penumbras em que viveram por tantas décadas, controladas por máfias políticas e criminosas. Hoje, contam com uma população mais bem informada, com o jornalismo, a literatura e a sociedade cada vez mais inquietas.
Que daí surja uma nova primavera, e desta vez para valer.
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