Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Descrição de chapéu América Latina

Tiroteios na cidade de Messi incendeiam corrida eleitoral na Argentina

Governo Fernández é criticado por demora em controlar violência em Rosario após ataque a comércio ligado ao jogador

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Cidade onde nasceram o revolucionário Ernesto Che Guevara, o músico Fito Páez e os recentes campeões mundiais Lionel Messi e Ángel Di María, Rosario é a terceira maior cidade da Argentina. Por sua bela arquitetura, que inclui palacetes e bulevares, frequentemente é comparada a Barcelona ou Montevidéu.

A pouco menos de 300 km de Buenos Aires, não tem o ruído, o trânsito nem o caos portenho. É bela e convidativa ao turismo, com suas "ramblas" que dão para o rio Paraná, cassinos, cafés e teatros do século 19. Nos últimos tempos, tem também recebido uma considerável quantidade de estudantes universitários brasileiros.

Policiais argentinos patrulham o bairro Los Pumitas, no norte de Rosario
Policiais argentinos patrulham o bairro Los Pumitas, no norte de Rosario - 8.mar.23/AFP

O que pouco se sabe de Rosario, porém, é que a cidade também tem seu lado grotesco, que em muito remete à Medellín da época de Pablo Escobar. Então, o narcotráfico dividia a cidade colombiana em setores dominados por cartéis, onde ocorriam acertos de contas que incluíam assassinatos coletivos, sequestros e extorsões.

Para que se tenha uma ideia do tamanho do problema, a cifra de mortos por 100 mil habitantes é de 22 em Rosario, enquanto a média nacional não passa de cinco. Em uma década, foram 2.500 assassinatos relacionados ao tema, cifras mais ou menos equivalentes às de países centro-americanos onde atuam "maras" (facções criminosas dedicadas ao narcotráfico).

Mas se essa situação tem mais de uma década, por que tem se falado tanto dela nessas últimas semanas? Primeiro porque uma das gangues locais deu mais de 14 tiros num comércio que pertence aos pais da mulher de Messi, Antonela Roccuzzo, e deixou um bilhete ameaçador ao jogador que foi o principal responsável pelo tricampeonato argentino. É preciso ressaltar que as torcidas dos dois principais clubes da cidade, o Rosário Central e o Newell's Old Boys (onde Messi jogou), têm setores vinculados ao narcotráfico.

Em pouco menos de 24 horas, a violência tomou conta da cidade. Houve vários tiroteios, até que um garoto de 11 anos morreu em meio a uma troca de tiros. A população da periferia da cidade se levantou e atacou, saqueou e colocou fogo num dos "bunkers" (locais de venda de drogas) locais mais importantes. A polícia não pôde se aproximar, e as forças de segurança do Estado passaram vergonha ao demorar dias para controlar a situação, provocando uma chuva de críticas da oposição.

Como peronista da linha chamada "moderada", Alberto Fernández nunca havia topado com uma situação como esta. Toda vez que um problema relacionado à criminalidade na Argentina chegava ao topo do debate público, o presidente preferia falar em diálogo ou apostar que a situação se acalmasse sozinha.

Desta vez, porém, é diferente. A Argentina está em fase eleitoral, com primárias previstas para agosto e eleições presidenciais em outubro. Fernández tem ambições de reeleição, e há um racha em sua força política.

Parte dela crê que a tal moderação fez mal ao peronismo e quer Cristina Kirchner como candidata. Já na oposição, beneficiam-se nomes como os de Javier Milei, um deputado de extrema direita amigo do clã Bolsonaro, e Patricia Bullrich, ex-montonera e ex-ministra de Mauricio Macri, que pediu o envio do Exército a Rosario.

A fotografia do "bunker" em chamas, sendo saqueado por vizinhos que integram a preocupante cifra de 44% de pobreza no país, colocou fogo na pré-campanha.

Ainda é muito cedo para apontar favoritos e nem sequer há pesquisas com simulação de voto, pois várias candidaturas ainda não foram lançadas. O que se pode afirmar hoje é que os argentinos não parecem inclinados ao centro nesta eleição. Do lado do peronismo, cresce a ala mais radical, liderada por Cristina Kirchner, e, do lado da direita, vão sobressaindo aqueles com discurso de linha-dura na área de segurança.

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