Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Descrição de chapéu América Latina

Degradação institucional ameaça eleição na Guatemala

A pouco mais de um mês do pleito presidencial, país acumula retrocessos e vivencia erosão democrática

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Quem se lembra da "primavera da Guatemala", em 2015, quando milhares de pessoas —em sua maioria, jovens— saíram às ruas para exigir o fim da corrupção, pode não acreditar no que ocorre hoje no país.

Naquela época, atuava a CICIG (Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala), uma entidade originária de um acordo do país com as Nações Unidas. O objetivo era que magistrados internacionais dessem apoio para a procuradoria-geral e a polícia em investigações de corrupção.

O resultado foi a revelação de mais de 120 casos. O mais escandaloso deles envolvia o então presidente Otto Pérez Molina, acusado de desviar dinheiro público. Ele acabou renunciando sob as pressões da sociedade e durante um processo de impeachment.

O presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, durante evento na capital, Cidade da Guatemala - Johan Ordonez - 31.mar.23/AFP

Hoje, resta pouco do que parecia ser um amadurecimento democrático do país. A pouco mais de um mês das eleições gerais (em 25 de junho), a Guatemala tem sido alvo de sanções e de advertências devido aos avanços do atual presidente, Alejandro Giammattei, contra as instituições.

Os trabalhos da CICIG foram interrompidos na gestão de seu antecessor, Jimmy Morales. Desde então, houve processos irregulares na escolha de magistrados e juízes, adotou-se uma política de linha dura contra manifestações populares e há perseguição à imprensa independente.

O caso mais chamativo foi a prisão do jornalista José Rubén Zamora, em julho de 2022. O jornal que ele fundou, elPeriodico, anunciou na última semana que fecharia as portas por não aguentar mais a pressão financeira motivada politicamente.

Ante às reclamações da sociedade com relação à violência, que vem crescendo nos últimos três anos, Giammattei reavivou o debate sobre a pena de morte, que está na Constituição porém não é colocada em vigor devido a tratados internacionais firmados pelo país.

Num cenário em que o país se vê impactado pelos anos de pandemia de coronavírus, está na rota do fluxo migratório aos EUA e tem virado refúgio de "maras" (gangues) expulsas de El Salvador, a deterioração da democracia é mais uma má notícia para os guatemaltecos.

A votação de junho será a mais fragmentada em termos de partidos políticos. Serão 30 legendas com candidatos à Presidência e ao Congresso, superando o pleito de 2019, que teve 28 partidos. A fragilidade do sistema partidário é notória. Desde o fim da guerra civil (1960-1996), nunca um mesmo partido governou mais de uma vez o país e foram criadas mais de 100 siglas, sendo que a cada eleição surgem alguns e outros desaparecem. Além disso, três candidaturas de oposição ao atual governo foram eliminadas pelo tribunal eleitoral, também sob forte influência de Giammattei.

Nesse contexto de degradação institucional e política, é difícil apontar favoritos. Pesquisas pouco confiáveis apontam que nenhum candidato hoje tem mais de 25% dos votos. Entre os mais bem cotados para ir a um segundo turno, em agosto, estão Zuri Ríos, ex-deputada e filha do ditador Efraín Ríos Montt, a ex-primeira-dama Sandra Torres e o ex-deputado e diplomata Edmond Molet.

A Guatemala parece seguir o resto da América Central no que diz respeito a linhas autoritárias de governo. Com relação aos avanços institucionais de 2015, pouca coisa parece ter ficado de legado.

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