Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Descrição de chapéu América Latina

Eleições regionais espelham dificuldades de Milei para chegar ao poder

Candidato de ultradireita à Presidência da Argentina encara dificuldades para construir aliança nacional

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A Argentina vive dias de incertezas e brigas de bastidores. No dia 24 acaba o prazo para apresentar as candidaturas que concorrerão às primárias que definem quem disputará o pleito presidencial, em outubro.

Embora Javier Milei esteja crescendo nas intenções de voto e se beneficie do fato de que tanto o peronismo quanto a chamada "direita democrática" ainda não definiram os nomes de seus presidenciáveis, já se fala de um possível teto para as ambições do provocador de ultradireita.

O pré-candidato à Presidência da Argentina, Javier Milei, em feira de livros em Buenos Aires
O pré-candidato à Presidência da Argentina, Javier Milei, em feira de livros em Buenos Aires - Agustin Marcarian - 14.mai.23/Reuters

Milei surgiu como opção tendo como base a capital federal do país, Buenos Aires, e a província de Buenos Aires, principal reduto eleitoral da Argentina, que reúne quase 40% dos eleitores. Mas esse eleitorado estratégico não define uma eleição. Para enfrentar forças políticas tradicionais e de alcance nacional, como o peronismo, o radicalismo (eleitores da União Cívica Radical) e os partidos regionais liderados por caciques, Milei precisa mais do que o discurso exaltado e as propostas apresentadas aos gritos.

Uma prova é o resultado das eleições regionais. Na Argentina, a escolha de governadores é feita em datas diferentes, ao longo do ano, antes do pleito presidencial. E o saldo até agora não é positivo para Milei.

Apadrinhados por ele perderam em várias províncias, como La Rioja, Rio Negro, Neuquén, Tierra del Fuego, Jujuy, Missiones e Salta. A pior derrota foi a de Ricardo Bussi, filho do genocida Antonio Bussi e grande aposta de Milei para governar Tucumán. Bussi ficou 20 pontos atrás do segundo colocado.

Nada disso, porém, garante que Milei desinflará como candidato à Presidência. Nesta disputa, em que é o único nome já definido por um partido, ele vem crescendo nas pesquisas, mantendo o personagem que criou nos últimos anos: político outsider que tenta atrair a população mais jovem e mais pobre e que quer responder de modo raivoso a um governo que não sabe lidar, principalmente, com a devastadora inflação.

Jorge Giaccobe, da consultoria Giaccobe & Associados, disse-me que foi fazer uma pesquisa nos distritos mais pobres do conurbano de Buenos Aires. "Falamos com gente em um nível de ignorância política enorme. Não se trata nem de desinformação, mas de ignorância. Os nomes que surgem são Milei e Cristina Kirchner, algo que não cabe em nossas classificações ideológicas, mas que temos de entender."

A falta de alcance nacional da candidatura de Milei preocupa sua campanha. A coligação da qual faz parte, a Libertad Avanza, é pequena. Embora haja esforços para nacionalizá-la, a estimativa é que, mesmo que Milei seja eleito com uma diferença de votos significativa, ele não terá mais do que 16 deputados e cinco senadores. Assim, pode ocorrer o cenário de um Milei vitorioso, mas sem respaldo parlamentar, e Brasil, Chile e Colômbia exibem a dificuldade de governar sem uma volumosa bancada no Congresso.

Quando forem definidos os nomes do peronismo, liderado por Cristina, e da aliança de centro-direita, comandada por Mauricio Macri, a eleição tomará outro rumo, quase que partindo do zero. Se Milei não se projeta agora como opção viável, depois será ainda mais difícil. E essa viabilidade não é determinada só por sua boa atuação como candidato de modo isolado. Ele precisará de alianças de alcance nacional.

As eleições regionais deste ano mostram o tamanho da dificuldade de Milei em abrir essas portas.

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