Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Nem todos gostam da ideia de reavivar a Unasul ou de cumprimentar Maduro

Blocos para integrar a região são criados ou esvaziados a depender da onda ideológica do momento

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Após tropeçar na tentativa de mediar o conflito na Ucrânia, Lula volta a olhar para a América do Sul, com objetivos que tampouco são consensuais: reavivar a Unasur e levar Maduro a Brasília para conversar com outros líderes regionais: alguns deles são a favor de se reaproximar do ditador, e outros, nem tanto.

Na próxima terça (30), o presidente brasileiro promoverá com esses governantes um encontro que terá um formato informal —tanto que a reunião é chamada de "retiro". A ideia é reuni-los num ambiente mais relaxado e com regras flexíveis para que conversem mais à vontade.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então em seu segundo mandato, e os então líderes do Paraguai, Fernando Lugo, e da Venezuela, Hugo Chávez, durante reunião da cúpula da Unasul em Bariloche, na Argentina
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então em seu segundo mandato, e os então líderes do Paraguai, Fernando Lugo, e da Venezuela, Hugo Chávez, durante reunião da cúpula da Unasul em Bariloche, na Argentina - Enrique Marcarian - 28.ago.09/Reuters

A Unasur foi criada em 2008 e chegou a ter como membros 12 países. Com o tempo, a aliança se desgastou. Criticada por ter forte alinhamento à esquerda, com Lula, o venezuelano Hugo Chávez (1954-2013), o argentino Néstor Kirchner (1950-2010) e o equatoriano Rafael Corrêa como principais líderes, começou a cair em descrédito após a esquerda perder eleições e ser substituída pela direita. A Colômbia saiu em 2018; no ano seguinte, foi a vez de Argentina, Brasil, Chile e Paraguai.

Paralelamente a essas saídas, criou-se um bloco de direita, o Prosul, em 2019, em cerimônia em Santiago da qual participaram Mauricio Macri (Argentina), Jair Bolsonaro (Brasil), Sebastián Piñera (Chile), Iván Duque (Colômbia) e Mario Abdo Benítez (Paraguai). Encerrou suas atividades justamente porque as seguintes eleições renovaram esses governos e, na maioria dos casos, assumiram líderes de esquerda.

Segundo o novo embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli, "a ideia da reunião [em Brasília] é buscar uma reintegração", já que hoje a região está muito diluída. "Chegar a posições comuns é difícil, mas um espaço de conversa é importante e pode ser feito, respeitando as diferenças", disse ele à Folha.

A principal crítica a uma retomada da Unasul foi feita pelo uruguaio Luis Lacalle Pou, que já coleciona fricções com o Mercosul devido às travas que Brasil e Argentina têm colocado à ambição de seu país de assinar um tratado de livre comércio com a China. Em entrevista recente ao jornal espanhol El Mundo, o presidente disse que o Uruguai pretende permanecer no Mercosul, mas sem integrar uma nova Unasul.

"Quando há coincidência política entre presidentes, cria-se a Unasul, quando a coincidência é por outra linha ideológica, cria-se o Prosul. E, com a chegada de novos dirigentes, esses órgãos se diluem, são colocados num freezer e voltam anos depois. A proliferação e a superposição de organismos políticos não colaboram para uma política de longo prazo", disse Lacalle Pou.

A ida de Maduro ao "retiro" é outra fonte de polêmicas. Em janeiro, ele acabou cancelando a viagem que faria à Argentina porque teve medo de ser preso ou de não poder abastecer seu avião, em razão das sanções internacionais impostas à Venezuela. Pelas mesmas razões, não teria ido à posse de Lula.

Fontes diplomáticas do Brasil, porém, afirmam que essas dificuldades logísticas e políticas estão superadas. Ainda assim, Abdo Benítez, Lacalle Pou e Gabriel Boric, muito críticos aos abusos de direitos humanos cometidos pela ditadura venezuelana, não estarão muito felizes em cumprimentá-lo.

Será que a região precisa de mais ou menos integração? Em caso positivo, é possível realizá-la deixando de lado questões políticas e ideológicas? Estamos mais perto de normalizar ainda mais a ditadura de Nicolás Maduro? A ver como respondem a essas perguntas os presidentes da região.

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