Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Notas de repúdio já não bastam

Se havia receio de que um impeachment poderia aprofundar a crise que estamos vivendo, hoje já temos a certeza de que nos calarmos representa risco muito maior

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Alertei, em maio do ano passado, em um dos meus primeiros artigos para esta Folha, que caso o Presidente da República, Jair Bolsonaro, insistisse em sua guerra ideológica, em vez de trabalhar para todo o povo brasileiro, só nos restariam duas saídas: renúncia ou impeachment.

Hoje, diante das acusações contra Bolsonaro, das inúmeras demonstrações de que o presidente não respeita a democracia e dos milhares de mortes que estão sendo causadas pela sua omissão durante essa crise, é chegado o momento de caminharmos para uma resolução.

Há meses, Jair Bolsonaro vem diminuindo a relevância da pandemia. Ele vai às ruas, participa de manifestações e anuncia que já passamos pelo pico de contágio quando, na verdade, as mortes continuam aumentando em ritmo acelerado.

Em live, Jair Bolsonaro observa manifestação a seu favor em frente ao Palácio do Planalto
Em live, Jair Bolsonaro observa manifestação a seu favor em frente ao Palácio do Planalto - Reprodução/Facebook

Com isso, faz com que percamos tempo e energia preciosos e sabota os esforços do Congresso, de governadores, prefeitos e sociedade civil para conter o vírus e proteger os mais vulneráveis.

Enquanto os sistemas de saúde pública do CE, AM e RJ atingem sua capacidade e valas são cavadas para os mortos, o presidente se exime de sua responsabilidade e aposta no caos.

Sua estratégia é simples: cruzar os braços, fazer piadas e jogar toda a culpa para os outros.

Estudos já apontam que seu discurso e mau exemplo contribuem para que as pessoas afrouxem o isolamento social. Enquanto isso, por incompetência do governo, a fome bate na porta de brasileiros que continuam sem receber o auxílio emergencial a que têm direito.

As máscaras estão caindo e Bolsonaro está mostrando que, além de ser inapto para o cargo, é também uma ameaça à nossa democracia.

As denúncias feitas pelo ex-ministro Sergio Moro são muito graves. Moro o acusou de intervir na Polícia Federal para manipular investigações que envolvem a família Bolsonaro.

Se as acusações se mostrarem verdadeiras, o presidente teria cometido pelo menos seis crimes, incluindo corrupção passiva e falsidade ideológica.

Essas acusações se somam à aproximação com figuras como o mensaleiro Roberto Jefferson, líder do PTB, deixando claro que suas falas em defesa do combate à corrupção nada mais eram do que oportunismo.

Muitos brasileiros estão finalmente acordando para essa realidade. As pesquisas mostram que a aprovação de Bolsonaro vem caindo e sua desaprovação aumentando.

Se havia receio de que um impeachment poderia aprofundar a crise de saúde pública e socioeconômica que estamos vivendo, hoje já temos a certeza de que nos calarmos diante de tudo o que está acontecendo representa risco muito maior.

Os especialistas dizem que, até que se encontre uma vacina, teremos que lidar com períodos de isolamento social intermitentes. Fica cada vez mais evidente que Bolsonaro não é uma liderança capaz de conduzir nosso país por um processo tão difícil e complexo.

Não podemos permitir mais um impeachment movido por razões políticas e recheado de falhas. Afastamentos como esse fazem com que uma parcela da população se sinta usurpada e enfraquecem a democracia. Por isso, precisamos, o mais rápido possível, investigar todos os possíveis crimes de Bolsonaro de forma transparente e imparcial.

Como democrata, defenderei até o fim o direito ao contraditório. No entanto, já não há mais tempo nem espaço para notas de repúdio. Precisamos trabalhar agora por apurações sérias e céleres tanto no Congresso Nacional quanto no Supremo Tribunal Federal.

Esse esforço já reúne parlamentares e cidadãos de todo o espectro político que concordam que nenhuma diferença pode ser maior do que a necessidade de defendermos a população e a nossa democracia.

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