O Pior da Semana

Escritora Tati Bernardi transforma em coluna as perguntas enviadas por leitores da Folha

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O Pior da Semana
Descrição de chapéu Mente Relacionamentos

Jasmin e a involução fecal

Por um futuro com menos gabinete do ódio enfezado e mais gabinete do amor batido com mamão

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Querido leitor, leitora e Letrux, a cantora. Essa é a coluna dos sonhos de uma pessoa caótica, neurótica, psicótica. Ainda não sou psicótica nível "ter um verbete característico em livro de psiquiatria", mas venho trabalhando há anos o meu amor e minha entrega a respeito da loucura que existe em todos nós. E agora chegou nossa hora. Nosso canal maravilhoso de comunicação. Nós vamos nos encontrar nesta coluna.

Toda semana, as piores (vamos combinar que no fundo são as melhores, confere?) perguntas enviadas no maravilhoso email tati.bernardi@grupofolha.com.br serão respondidas por aqui. Baixaria desrespeitosa e bolsonarista (parece pleonasmo) eu vou ignorar, porque eu preciso urgentemente, segundo meu médico chinês, melhorar a boa energia dos meus rins.

Jasmin, você é o primeiro eleito pior da semana. Parabéns. Sua teoria de que a humanidade, pelo menos a que você conhece, tem defecado cada vez com mais dificuldade —e essa ser a culpa de tantas involuções reportadas na última década —emocionou meu segundo cérebro. E pude celebrar um bom banheiro e me sentir apta a desejar um dia cheio de alívios para meu semelhante.

ilustração colorida mostra quatro pessoas enfileiras com os punhos para cima; a pessoa da frente segura um smartphone em uma das mãos. Na tela, há um monte de fezes.
Catarina Pignato

Por que, por Deus, fomos para as ruas em 2013? Por quê? Será que a gente só queria cagar e não conseguia, então fomos todos evacuar a democracia juntos? Eu não aguento mais blogueira fitness ensinando "seguimores" a cagar. Meus antepassados obravam muito melhor. Meus avós, que chegaram a achar o Collor interessante e bonitinho, faziam o tipo "não posso demorar na rua porque cago três vezes por dia". Por um futuro com menos gabinete do ódio enfezado e por mais gabinetes do amor batido com mamão, farelo de linhaça e psyllium.

O maravilhoso Jean, segundo pior da semana, está incomodadíssimo com os comedores de gente e se pergunta como chegamos a esse ponto. Ele explica: depois da febre dos desenhos, filmes e séries com zumbis, agora virou modinha o canibalismo civil, onde o serumaninho de fato come outro serumaninho.

Essa moda não chegou onde eu moro, mas lembrei de uma matéria antiga da Folha, acho que de 2012 (não à toa tudo desandou em 2013), que explicava que se você achar um bracinho de alguém dando sopa na rua e acabar degustando o membro com batatas, você não cometeu nenhum crime. Crime é se você decepou o bracinho de uma pessoa viva. Eu acho, Jean, que a militância deveria liberar a gente para falar que quer comer fulano e quer ser comida por fulano. No sentido sexual, obviamente. Porque, sem a libertação da metáfora, sem o inconsciente libre para exercer sua libido depredatória, podemos nos tornar todos criminosos decepadores de membros.

Carlos, terceiro pior da semana, se diz um feminista e quer saber por que as filhas não podem ter o nome do pai e "Júnior" no sobrenome. Ficou estranho. Será que ele quis dizer o nome da mãe? Será que ele quis dizer que está correta e honrosamente aberto para a filha ter o gênero que quiser? Será que ele quis dizer o nome do pai no feminino? Por que ele quer tanto uma Carla Juniora ou Carla Filha? Precisa ver isso aí de ser feminista, Carlos.

Ronaldinho, 70 anos (te envelheci de propósito, velho safado) quer saber se minha vagina loira transa ao natural ou se fumo maconha. Meus pentelhos pretos transam ao natural exatamente pelo motivo de que não os pinto de loiro, idoso depravado.

Silvia, 67 anos —que está ótima sem homem e não precisa de homem e se pergunta por que raios uma mulher acha tanto que precisa de homem —quer saber por que o gatinho vovô do aplicativo, com quem teve uma noite deliciosa de bom papo e beijos quentes, sumiu. Eu acho, Silvia, que ele sumiu porque você deve ter dito para ele que não precisa de homem.

Eu também não preciso de homem, mas quando gosto muito de um e ele some, eu percebo que também não preciso de nenhuma outra coisa. Nem levantar da cama, por exemplo. Nem tomar banho. Eu sofro igual eu sofria com 14 anos. É uma merda, amiga. Vai atrás de outro. A gente precisa sim de relação amorosa. Não acredita no papo da blogueira fitness, que é também coaching de autoestima, e que ensina a cagar e a não precisar de homem. Não que muitas vezes eles não sejam a mesma coisa.

Danilo tem uma namorada muito mental e cínica que tem tesão em mim. Mas ele acha que ela não conseguiria transar com outra mulher muito mental e cínica. Quem "relaxaria" a gente? O que concluímos dessa história? Que Danilo sabe o papel que tem na vida de uma mulher muito mental e cínica: ser meio burrinho.

Violeta fracassou completamente em não ser perfeita. Nem deveria estar entre os piores, mas eu não poderia encerrar sem falar dela. A leitora comparou o ChatGPT com um funcionário do sexo masculino, hétero, cis, branco, mediano, sem profundidade, boçal, superficial e sem referências bibliográficas. E disse que justamente por isso está com medo, como sempre acontece no Brasil, de perder seu emprego para ele. Brilhante, querida.


Tem algum questionamento inusitado, uma reflexão incomum ou um caso insólito para contar? Participe da coluna O Pior da Semana enviando sua mensagem para tati.bernardi@grupofolha.com.br

Catarina Pignato

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