Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Comércio eletrônico se enraizou rapidamente na vida dos chineses

Entregadores são onipresentes nas ruas e nos elevadores de Pequim

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No meu primeiro dia de trabalho em Pequim, fui recebida por um funcionário simpático que me mostrou as instalações da universidade. Ao final da conversa, perguntei onde encontraria um bom café. Ele rapidamente sacou o celular do bolso, com um sorriso de quem diz: você ainda não entendeu nada.

Ele tinha razão.

Para meu espanto, vários colegas pedem café por aplicativo e, mais espantoso ainda, o café chega quente ao campus.

Funcionária separa pacotes para entrega em Shenyang, no nordeste da China
Funcionária separa pacotes para entrega em Shenyang, no nordeste da China - 14.nov.2019/AFP

O comércio eletrônico se enraizou rapidamente na vida dos chineses. Poucos dias depois do episódio do café, no elevador do prédio onde moro, subi com um entregador (sempre eles) carregando um saco com duas batatas (você leu bem, duas batatas).

Neste país altamente seguro, tudo se entrega em casa. Entregadores são onipresentes nas ruas e nos elevadores de Pequim.

Para quem se impressiona com o Black Friday americano, é melhor se sentar. Em vendas online, o dia dos solteiros na China está anos-luz à frente. Neste ano, o 11 de novembro, ou duplo 11, bateu novos recordes. O grupo Alibaba, criador do 11/11, precisou de apenas 68 segundos para vender US$ 1 bilhão (R$ 4,20 bilhões). Em meia hora, chegou aos US$ 10 bilhões.

O JD, outro peso-pesado do comércio eletrônico chinês, anunciou que 10 mil televisores de 65 polegadas foram vendidos em oito segundos. Cerca de 400 mil foram empregados temporariamente apenas para dar conta da demanda do dia dos solteiros. 

Mais de 1,8 bilhão de pacotes foram entregues. A bonança resultou em um faturamento de US$ 38,4 bilhões para o grupo Alibaba. Em vendas online, o Black Friday de 2018 gerou US$ 6,2 bilhões. O varejo eletrônico deve movimentar US$ 1,5 trilhão na China em 2019, segundo a consultoria McKinsey (no Brasil, esse valor deve ser de US$ 30 milhões). 

A China sozinha tem um mercado de varejo online superior à soma dos dez maiores mercados seguintes. Aqui são 855 milhões de consumidores digitais, e 25% do varejo é online (no Brasil, 4%).

Evidentemente há desafios. O ritmo de crescimento do comércio eletrônico está caindo. A competição é acirrada. O mercado tem suas peculiaridades. E novas questões se impõem: como conectar a experiência de compras online e offline, como aproveitar o potencial ainda a ser explorado de cidades menores (para padrões chineses) e qual a melhor estratégia para o 11/11, em que as empresas oferecem grandes descontos e espremem suas margens.

Tecnologia é algo que permeia as respostas para essas questões. As empresas precisam tomar decisões a partir de dados para definir como precificar e promover seus produtos no 11/11. Para a McKinsey, elas precisam contar com a ajuda de cientistas de dados para transformar as informações coletadas em ideias para refinar a estratégia de preço, sob pena de venderem muito e lucrarem pouco.

Entender o varejo online na China é um desafio enorme especialmente para empresas estrangeiras. Há pouco tempo a rede francesa de supermercados Carrefour anunciou que estava saindo do mercado chinês. Para alguns analistas, a operação online da empresa não estaria à altura das expectativas do consumidor local. 

Realmente, para as estrangeiras, não é fácil aceitar que é preciso entregar duas batatas em 30 minutos numa cidade de mais de 21 milhões de habitantes. E mudar a mentalidade é só o primeiro passo. Fazer a coisa acontecer é que são elas.

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