Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Tatiana Prazeres
Descrição de chapéu China

Pouco conhecidos fora da China, bilionários locais são cada vez mais numerosos

Segundo a Forbes, país asiático tem hoje 626 bilionários; em 2019, eram 388

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Quando se pensa em bilionários na China, é Jack Ma o nome que primeiro vem à mente. No entanto, o universo dos riquíssimos é cada vez mais amplo no país —e ainda pouco conhecido fora daqui.

Para começar, Jack Ma, co-fundador do Alibaba, não é a pessoa mais rica da China. Com tantas empresas de tecnologia em alta, como a Tencent, dona do WeChat, e a ByteDance, do TikTok, qual delas teria produzido o atual número 1 da lista?

Pois o sujeito mais rico da China produz água engarrafada. Qualquer um aqui reconhece as garrafas da Nongfu Spring. Mas não deixa de surpreender que isso tenha gerado a maior fortuna da China, onde inteligência artificial, big data e veículos elétricos fazem as manchetes.

Zhong Shanshan, presidente da empresa de água mineral Nongfu Spring durante entrevista coletiva em Pequim
Zhong Shanshan, presidente da empresa de água mineral Nongfu Spring durante entrevista coletiva em Pequim - 6.mai.13/AFP

Zhong Shanshan começou como operário na construção civil e foi vendedor no ramo de bebidas. Fundou a empresa em 1996 e abriu seu capital na bolsa de Hong Kong no ano passado. Tem também participação em empresa da área médica. Para não ser injusta, dizem que seu negócio tem forte base tecnológica.

Logo depois do empresário das garrafas de água, é verdade que o clube dos bilionários chineses está repleto de nomes associados a tecnologia. Diferentemente de outros países, o setor financeiro, sob o controle estatal, não produz fortunas individuais. Ou melhor, elas não aparecem em rankings —mas, de tempos em tempos, escândalos de corrupção mostram que existem.

Até o início da abertura econômica da China, em 1978, todos eram, por assim dizer, igualmente pobres. A ideia de que alguns poderiam ficar ricos primeiro, ajudando a puxar o crescimento do país, foi endossada publicamente por Deng Xiaoping. Começou aí o aquecimento dos chineses rumo às listas de bilionários.

Em função da história relativamente recente de abertura da economia, os casos de fortunas herdadas são ainda limitados. No setor de tecnologia, a riqueza quase sempre começou do zero, mas a maioria dos super-ricos de hoje não era exatamente pobre. Vários frequentaram boas universidades chinesas, como o fundador da Tencent, Pony Ma, segundo chinês na lista da Forbes.

Ainda que com recursos escassos, alguns viveram nos EUA e foram expostos ao ecossistema de inovação do país. É o caso de Colin Huang, do Pinduoduo, plataforma de e-commerce com descontos para grupos, uma mistura de comércio eletrônico e rede social. É dele a terceira maior fortuna da China.

Em 2020, o mercado de ações produziu uma grande onda de super-ricos na China. Atrás apenas dos EUA, o país tem hoje 626 bilionários, segundo a Forbes. Em 2019, eram 388. Impressiona o crescimento do número de bilionários chineses nas últimas duas décadas —mas o aumento em 2020 chega a assustar.

Neste país que é comunista e não é, que é capitalista e não é, a percepção dos chineses sobre acumulação de riqueza me intriga. Ao conversar com alguns, tenho a impressão de que o crescimento da desigualdade econômica preocupa, mas, paradoxalmente, a existência de bilionários não incomoda. Ao contrário, eles servem de inspiração e motivam os chineses a trabalharem (ainda) mais.

Lembrei-me que em Pequim há o chamado Restaurante dos Bilionários. Com preços altos, mas não absurdos, o proprietário explora o mercado dos chineses que gostam da ideia de pertencer ao clube.

Noutro dia estive com um chinês e um americano, ambos com larga experiência nos dois países. Perguntei sobre a diferença entre bilionários nos EUA e na China. Mais falante, o americano prontamente respondeu: nos EUA, os bilionários mandam no governo. Na China, o governo manda nos bilionários. Sem que seu nome precisasse ser mencionado, Jack Ma tinha voltado à pauta.

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