Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu China Ásia

Como os chineses acham que seu país é visto no mundo?

Pesquisa recente, ainda que limitada aos usuários de internet, tomou a temperatura da população sobre temas internacionais

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"A China é agora vista pelos americanos como o principal inimigo dos EUA", concluiu o Gallup neste ano. "Praticamente nove em cada dez americanos consideram a China um competidor ou um inimigo, em vez de um parceiro", revelou o Pew Research Center, em pesquisa também de 2021.

Referências como essas são amplamente conhecidas entre os que estudam China. No entanto, apesar de necessário, é muito raro ouvir o que pensam os chineses sobre o mundo.

Prédios em Pequim exibem show de projeções na véspera das celebrações dos 100 anos do Partido Comunista Chinês
Prédios em Pequim exibem show de projeções na véspera das celebrações dos 100 anos do Partido Comunista Chinês - Noel Celis - 30.jun.21/AFP

Para começar, medir a opinião pública é tarefa difícil na China, especialmente para instituições estrangeiras. Resultados são frequentemente vistos como não confiáveis ou pouco representativos.

Ao mesmo tempo, pesquisas realizadas por instituições chinesas são recebidas com ceticismo fora daqui. Segundo o Global Times, por exemplo, 96% dos netizens chineses têm uma visão negativa dos EUA —uma quase unanimidade altamente suspeita. Neste contexto, uma pesquisa recente, ainda que limitada aos usuários de internet na China, tomou a temperatura da população do país sobre temas internacionais.

Sob a liderança do Carter Center, dos EUA, perguntou-se, em primeiro lugar, a opinião dos participantes sobre os EUA. Depois, como pensam que seu país é visto internacionalmente. Segundo a pesquisa, 62% dos internautas chineses têm uma visão negativa ou muito negativa dos EUA. O resultado não chega a surpreender. O número é alto —e diferente daquele do Global Times. Outras pesquisas indicam que os chineses admiram os EUA devido à tecnologia, à inovação, ao poderio militar e à influência internacional.

Curiosamente, as Olimpíadas de Pequim, em 2008, talvez tenham marcado o ponto mais alto na percepção dos chineses sobre os EUA nas últimas décadas.

George W. Bush veio à capital chinesa acompanhado do pai. O presidente e o ex participaram da abertura dos Jogos, assistiram a uma partida de vôlei de praia e jantaram na Cidade Proibida. Para os chineses, não apenas um sinal de deferência, mas também uma expressão de humanidade.

Nesta semana, os EUA anunciaram que farão um boicote político às Olimpíadas de Inverno de Pequim, em fevereiro de 2022. Atletas virão, autoridades, não. A mudança dos tempos reflete também o crescimento drástico da percepção desfavorável do público americano sobre a China.

Isso faz o outro resultado da pesquisa do Carter Center especialmente interessante: expressivos 78% dos participantes pensam que a China tem uma visão positiva (32%) ou muito positiva (46%) no exterior.

É certo que no mundo em desenvolvimento as visões sobre o país asiático tendem a ser mais favoráveis. No entanto, os resultados do Carter Center indicam haver, na China, uma visão edulcorada a respeito da percepção internacional do país. A avaliação dos chineses sobre sua imagem no mundo revela em parte a capacidade de a mídia oficial moldar percepções. No entanto, gostando ou não da maneira como se forma a opinião pública na China, é necessário entender melhor como os chineses enxergam o mundo.

A dissonância de percepções —como o mundo vê a China e como os chineses acham que a China é vista— pode se revelar perigosa, sobretudo se alimentar excesso de confiança entre as autoridades. Numa lógica que se retroalimenta, acreditar integralmente na própria narrativa estimula um triunfalismo que pode ser nocivo, que aumenta o risco de erros de cálculo.

Ao comentar o resultado da pesquisa, Yawei Liu, do Carter Center, fez referência ao telejornal do horário nobre na China, em que os 25 primeiros minutos costumam retratar as glórias do país e os últimos cinco mostram quão ruim a situação está do lado de fora. Para a grande maioria dos chineses, conclui ele, é natural supor que o mundo admire a China.

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