Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu China Ásia indústria

China está convencida de que, ao se modernizar, não precisa deixar indústria no caminho

Setor ficará mais competitivo porque passa a incorporar cada vez mais uso de inteligência artificial

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Entre as várias crenças a respeito da economia da China, há a visão de que o país não tem como sustentar por muito tempo o título de "fábrica do mundo".

O argumento é o de que, à medida que o PIB cresce e os salários sobem, a China invariavelmente perderá produção industrial para outras economias. Agora que a mão de obra no país é duas vezes mais cara que na Índia ou no Vietnã, sua etapa de líder fabril estaria com os dias contados.

Braços robóticos em fábrica de peças automotivas em Chuzhou, na China
Braços robóticos em fábrica de peças automotivas em Chuzhou, na China - Han Xu - 7.nov.21/Xinhua

A crença tem alguns elementos de verdade. O governo, porém, quer provar que a conclusão é errada. As autoridades pretendem que o país siga sendo uma potência manufatureira. Entendem que perder competitividade industrial não é inevitável —mas algo fruto de políticas equivocadas. A questão é que a competitividade não poderá mais vir do baixo custo do trabalho (ou à base de degradação ambiental).

Serão serviços e tecnologia que darão o impulso para a modernização industrial chinesa. O futuro da economia não passa por um dilema do tipo indústria versus serviços, como alguns com frequência caracterizam. É justamente o contrário. A indústria se tornará mais competitiva porque, partindo de uma base já robusta, passa a incorporar tecnologias de internet industrial, especialmente inteligência artificial, para ganhos de produtividade e competitividade.

Cada vez mais, o valor agregado da indústria chinesa virá de serviços tecnológicos, possibilitados pelo 5G.

Em 20 anos, a China liderará o mundo em manufatura avançada, com inteligência artificial (IA) promovendo melhorias em automação, prevê Kai-fu Lee, uma das grandes referências em IA. As fábricas chinesas já têm o maior número de robôs industriais, mas eles contam com um nível de inteligência relativamente baixo. No futuro, os robôs gradualmente atingirão outros patamares a partir de IA e serão empregados em mais cenários, estima o especialista.

Para que não haja dúvidas, o movimento de saída de investimento industrial da China por razões de custo de mão de obra é real e ocorre há mais de uma década. Setores como o de confecções e calçados, por exemplo, vêm encontrando opções mais atraentes no Vietnã, no Camboja e em Bangladesh.

Outras indústrias buscam alternativas à produção na China para mitigar riscos e custos associados a tarifas e sanções adotadas especialmente pelos EUA.

Se mudanças em cadeias de valor são, em algum grau, inevitáveis, a desindustrialização não precisaria ser. A percepção aqui é a de que a desindustrialização foi um erro dos americanos que Pequim não pretende repetir. A fatia da manufatura no PIB chinês tem caído desde 2015, totalizando um pouco mais de um quarto do total em 2020.

As autoridades querem conter esse movimento, que estaria ocorrendo "muito cedo, muito rapidamente". O novo plano quinquenal 2021-2025 pretende estabilizar a participação da indústria no PIB.

Manter uma base industrial forte importa para a China não apenas por motivos econômicos ou tecnológicos. Há um valor estratégico em certas cadeias industriais, diante de um ambiente externo que Pequim caracteriza cada vez mais como hostil aos interesses chineses.

Os objetivos de reduzir a dependência externa e promover autossuficiência têm adquirido importância crescente. Na área de semicondutores avançados, por exemplo, Pequim sente a mão de Washington apertando-lhe o pescoço.

Em 2049, no centenário da fundação da República Popular da China, as autoridades pretendem que o país seja uma superpotência nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, uma superpotência cibernética e, sim, também uma "superpotência manufatureira global".

A China está convencida de que, ao se modernizar, não precisa deixar a indústria no caminho. Para isso, precisa que a indústria evolua junto —puxada por robôs.

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