Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

Ricardo Terto fala sobre internet e acessibilidade no Brasil da pandemia

Cada página desse brilhante ensaio rende um ótimo livro de no mínimo 200 páginas

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Quem é Essa Gente toda Aqui?

  • Preço R$ 30
  • Autor Ricardo Terto
  • Editora Todavia (56 págs.)

Só pra fazer um comentário que é a cara da internet: o único problema com esse livro do Ricardo Terto é que ele acaba. E muito rápido. “Quem é essa gente toda aqui?” faz parte da “Coleção 2020 – Ensaios sobre a pandemia”, que a Todavia lançou ano passado e sobre a qual eu já escrevi quando resenhei “Lupa da alma”, da psicanalista Maria Homem.

Por mais conectado que você se considere, se ainda não conhece o escritor (e também produtor, roteirista e editor de podcasts) que tentou usar o banheiro de um Starbucks e teve seu acesso negado por uma fechadura eletrônica, você está por fora.

Terto, que lançou o conjunto de crônicas “Marmitas frias” pela editora Lamparina Luminosa em 2017 e a antologia de contos “Os dias antes de nenhum” pela Patuá em 2019, é o tipo de mente ágil e em ebulição —uma daquelas pessoas raras que parecem ver as coisas como de fato são e, ainda assim, não conseguem parar de se perguntar o que está acontecendo— cujas frases complexas e espertíssimas se tornam automaticamente simples e óbvias assim que você se vê levado a pensar sobre elas: “Talvez a ideia mais perigosa no Brasil, hoje, seja a de que não temos mais nada a perder. E a cada dia descobrimos uma nova perda.”.

Livro "Quem é Essa Gente toda Aqui?", de Ricardo Terto, da editora Todavia
Livro "Quem é Essa Gente toda Aqui?", de Ricardo Terto, da editora Todavia - Reprodução

Se parte do livro nos prende pelo humor “No Brasil, a porta de banheiro público deve ter sido a maior plataforma social antes da internet”, momentos como “as crianças pretas quando morrem, parecem não morrer antes de estarem nos destaques [do Twitter]” e “é triste ter que defender a hashtag Fique em Casa enquanto o estado invade lares e mata crianças” são aquele tapa na cara que o leitor com um mínimo de dignidade procura levar ao buscar o necessário desconforto em um texto escrito por um jovem negro com longo passado periférico.

Tentei fazer esta resenha dizendo o quanto vibrei com a inteligência do autor em frases como “eu acredito no bafo matinal como uma ferramenta evolutiva. É uma evidência que a gente não foi feito para interagir com ninguém ao acordar”; depois o quanto aprendi sobre democratização digital através do WhatsApp —que, para ele, “é o galho que acessa a fruta e o prego que restaura o chinelo, porque ele reforma o acesso à informação”— e do meme, quando diz que “o que é o meme brasileiro senão um descendente digital da gambiarra?”, mas minhas palavras neste Carnaval que não é Carnaval “estão emburradas com o mundo. Estão seguindo a quarentena e não sei muito bem se serei eu a dizer a elas que é seguro sair”. E achei melhor rechear esta coluna com toda a perspicácia de Terto.

Por último, eu queria dizer ao Ricardo e à Todavia que cada página desse brilhante ensaio rende um ótimo livro de no mínimo 200 páginas. Conto com vocês.

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