Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

Um Enem com a cara do governo

Vou ignorar esse tema aí que vocês estão propondo para redação do Enem e falar o que penso

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Eu vou ignorar esse tema aí que vocês estão propondo para essa redação do Enem e falar o que eu penso. Primeiro porque não gosto que me digam o que fazer e depois porque, como um negacionista nato, eu nego até tema de redação. Não me importa muito que um professor leia isso aqui, até porque é tudo comunista mesmo. Fiquei feliz com o desmonte do Inep mesmo sem saber o que é Inep. Mas devia ser tudo petista, psolista ou amigo do Moro ou do Doria ou do Mourão. Enfim, qualquer pessoa que seja amigo ou tenha amigos.

Eu só falo mesmo é para meu cercadinho, a saber: uns caras estranhos que ficam na porta da minha casa, me esperando sair pra espalhar meu ódio pelo mundo.

Resultados do Enem estão disponíveis a partir de segunda-feira (29), após as 18h
Estudante carrega prova do Enem - Mariana Leal/MEC

Tenho duas tias, um avô, um primo de segundo grau e alguns pais e mães de conhecidos que morreram de Covid. Gosto de pensar que eles sofreram bastante antes disso, porque, como o meu presidente eleito democraticamente, sou a favor da tortura.

Eu tive Covid, mas a enfrentei como homem e não como moleque. Não fiquei histérico. Não chorei o leite derramado. Não fiquei de mimimi. Pensei na doença como uma chuva. Me molhei, mas não morri afogado. Em suma, não me acovardei e estou cansado de viver em um país de maricas.

Dizem que a culpa é do presidente Jair Bolsonaro, um homem de Deus, um defensor da Constituição e um líder que, apesar da idade e dos problemas que enfrenta (e o fazem chorar no banheiro) para nos salvar de tudo isso que tá aí, ainda dá seus "bons-dias especiais" para a primeira-dama e a expõe publicamente em um encontro cujo tema era a fome de milhões de brasileiros.

Só que morrer é humano, vai acontecer com todos um dia. (E se você for um professor comunista, espero que pra você role muito em breve.) Quer dizer, algumas pessoas, como o coronel Brilhante Ustra e sua enorme contribuição para a literatura mundial, são imortais. Mas o que eu queria mesmo dizer é que o capitão Bolsonaro não é o Messias nem coveiro. Ele é um homem corajoso que, por causa dos governadores que mandaram a gente ficar em casa, poderia ter pegado mofo no pulmão.

Eu defendo que as máscaras são mais perigosas do que qualquer vírus. Primeiro porque posso desmaiar com meu próprio bafo, bater a cabeça numa quina e morrer sem nem ter chance de ir para o Santa Maggiore receber meu kit trevas ou ter a experiência transcendental de ser expulso de uma UTI vivinho e levando comigo o meu atestado de óbito. Depois porque que elas causam "diminuição da percepção de felicidade" e, apesar de eu passar o dia vendo imagens do Holocausto e tentando comprar armas na deepweb, eu sou um cara que dá risada vendo programas de TV tipo o Sikêra Júnior. Eu sou feliz. Acho.

Em relação à vacinação obrigatória, eu sou a favor apenas de vacinar meu pitbull. Em robôs eu tenho medo porque, se todos os robôs virarem jacaré, a gente vai ser obrigado a defender o meio ambiente. Aliás, duas coisas: se Bolsonaro fosse mesmo tão contra a natureza não daria cloroquina pra ema nem defenderia a imunidade de um monte de rebanho.

Olha, eu li em algum lugar que a solidão também mata. E por isso eu aglomerei bastante nesses quase dois anos de pandemia. Não que eu quisesse todas aquelas pessoas vivas. Eu, como brasileiro que precisa ser estudado, não pego nada. Se eu pular num esgoto, não vai me acontecer nada. Já tive cólera, amebíase, giardíase, leptospirose e hepatite A, mas posso garantir: isso foi durante o governo da Dilma.

Uma pessoa estressada perde a imunidade e, portanto, se morreram tantas pessoas de Covid no Brasil é culpa da ansiedade climática. Coisa que eu não tenho já que não quero ter filho e muito menos neto. Mas se eu tiver, que seja homem, porra! Macho. E eu jamais vou criá-lo para que case com uma negra.

O Brasil mudou, e muito, a partir de janeiro de 2019. São quase três anos de um país sem corrupção. Rachadinha pra mim é o que eu gostaria de levar em um flat pago com dinheiro público. Tráfico de cocaína em avião presidencial é coisa plantada pela mídia, até porque, toda pessoa de família sabe, jornalista é tudo umas bicha drogada.

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