Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tati Bernardi
Descrição de chapéu Todas maternidade

Tarsilinha

Grata pela obsessão da Ritinha não abarcar princesas e joguinhos eletrônicos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Mês passado minha filha voltou da escola animadíssima, contando que havia estudado a vida e a obra de Tarsila do Amaral. Queria saber mais sobre os modernistas e me perguntou se a tal da Anita "Malfatia" era mesmo a melhor amiga da pintora. Por fim, me pediu que, num próximo feriado, a gente visitasse o sítio onde Tarsila nasceu e depois fôssemos "de avião" ver sua principal tela, o "Bapuru".

Achei incrível o seu interesse e resolvi mostrar no computador algumas fotos da artista. Rita gostou muito de ver os retratos de sua irmã, Cecília, de sua filha, Dulce, do Oswald de Andrade, dos amigos do "Grupo dos Cinco", da sobrinha que morou com ela, da sobrinha-neta que ainda está viva... e, por fim, da Claudia Raia vestida de Tarsila. Então imprimimos todas essas imagens, pintamos, recortamos, fizemos quadros e montamos bonecos (é só colar o recorte num palitinho).

Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, em 1927 - Acervo do Museu da Imagem e do Som

Em seguida, Ritinha solicitou, com certa urgência, massinhas de modelar, argila, papel-manteiga e isopor. E foi assim que, nas últimas semanas, construímos umas 198 Tarsilas do Amaral. Depois fomos até uma livraria e compramos livros com fotos das principais obras dos modernistas. No mesmo dia, acabei em uma papelaria escolhendo cartões-postais, bloquinhos e cadernos cujas capas traziam o "Abapuru", a "Negra", os "Operários" e o "Autorretrato" da artista. Também fui coagida a adquirir ímãs de geladeiras, chaveiros, canetas, pôsteres e uma camiseta com a palavra "Antropofagia".

Grata porque a nova obsessão da Ritinha não abarcava princesas e joguinhos eletrônicos, encontrei no Prime Vídeo o longa-metragem de animação "Tarsilinha", a que já assistimos umas 247 vezes. Sabemos as falas de cor e reconhecemos ao longo de todo o filme as telas e os desenhos da pintora –como "A Lua", "A Cuca", "O Lago", "Sol Poente", "Abaporu" – e identificamos personagens tirados diretamente de suas obras, como o Saci-Pererê, o Sapo-Cururu, a Lagarta, o Trem, entre outros.

Rita também gostou da trilha sonora, em especial a música do Zeca Baleiro, e quis saber quem são a cantora Ná Ozzetti e a atriz Marisa Orth (que faz a voz divertidíssima da Lagarta). Fico feliz em ver como a arte é um caminho sem volta e como uma informação puxa mais uma e mais uma, numa espécie de espiral de interesse inesgotável.

Ontem atingimos camadas mais profundas: minha criança está em luto porque descobriu que Dulce, a filha de Tarsila —que tinha o mesmo nome de uma das irmãs da pintora—, morreu antes da mãe. Ela não entende como uma filha pode morrer antes da mãe (nem eu). Perguntou se Tarsila chorou muito e se, depois, mãe e filha se encontraram e ficaram juntas no céu (a babá incutiu todo um catolicismo na menina, e eu respeitei).

Consegui permissão com a assessora da Claudia Raia para levar uma criatura fofa de seis anos ao musical "Tarsila, a Brasileira", cuja faixa etária é para crianças acima de dez anos (a duração é de três horas, e minha filha já disse que acha pouco).

Local onde a artista passou a infância, a Fazenda São Bernardo, no município de Rafard, fica a duas horas e 17 minutos da minha casa, e certamente o passeio até lá vai sair mais barato do que levá-la ao Malba, museu argentino em que está exposto o "Abapuru" (não que ela vá desistir dessa ideia tão cedo).

Já sei como será minha Páscoa –enquanto Jesus renasce, Rita quer porque quer descobrir onde está o caixão de Tarsila, mas vou convencê-la a se contentar com uma visita à Pinacoteca– e confesso que, por enquanto, estou achando tudo maravilhoso. Quando ela conseguir escrever Menotti Del Picchia sem a ajuda do Google eu penso se converso com algum terapeuta.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.