Ciro Gomes (PDT) foi de Paris direto para o ringue. Nesta quarta (13), afirmou ter errado ao lutar contra o impeachment de Dilma, a quem qualificou como “uma das pessoas mais incompetentes, inapetentes e presunçosas que já passaram pela Presidência”. Aqui, rejeita boa parte da esquerda, sem perspectiva de ganho eleitoral nisso (de antipetistas o cenário de 2022 já está bem servido).
Ciro reagiu a postagem de Dilma para quem ele estaria respondendo à sua “baixa aprovação popular”, “mergulhando no fundo do poço”. Anteriormente, Ciro criticara “movimentos erráticos [de Lula]” (sem dizer quais) que teriam levado, para ele, à queda da ex-presidente. Aqui, Ciro inventa uma realidade paralela, tão turbulenta quanto o caminho entre Guarulhos e Charles de Gaulle.
Seria só outra intriga eleitoralmente insignificante —embora moralmente condenável, dados seus contornos misóginos— se a democracia não estivesse em jogo; mas está. Se é fato de que não recai exclusivamente sobre os ombros de Ciro o peso da inexistente frente democrática (PT tem culpa aqui também), é fato que Ciro pouco se importa com ela.
Qual a estratégia política de Ciro para 2022? Ao que parece, seriam duas: de um lado, encapsular o machismo turrão peculiar do identitarismo coronelista à la Bolsonaro; de outro, contribuir para a implosão de qualquer resquício de uma frente democrática para ver se os cacos que restam o fazem emergir das profundezas do rio Sena. O que seria estratégia soa, eleitoralmente, a desespero.
Azar do país em que o projeto de poder, à esquerda e à direita, depende de personagens em busca incessante de seus podres poderes. Que falta ao campo progressista um projeto de país consensual já sabíamos com lamento. Esperava-se que a democracia os unisse; Ciro prova que não. Os jogadores de 2022 decidiram que a partida eleitoral começou, e esta não os une. Pensam que Bolsonaro já está batido, o que é um erro grosseiro para quem disputa a eleição e para quem ainda acredita que valha preservar a democracia.
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