No país que elegeu uma Câmara federal com 82% de homens; exigir do novo governo equidade nos espaços de poder não é mimimi identitário; significa assegurar sobrevivência política ao projeto progressista colocando, na sua linha de frente, quem mais rejeita Bolsonaro. Possibilita, em segundo, oxigenar partidos cujas lideranças já não estarão mais aqui em 20-30 anos e, terceiro, impõe reconhecer que sexismo e racismo não são coluna vertebral da extrema direita e, portanto, demandam reação à altura.
Na campanha, Lula evitou se comprometer, mas afirmou que seria "plenamente possível" ter um ministério mais representativo. A fatura chegou. De fato, é possível: Chile e Espanha têm maioria de mulheres no gabinete; México tornou a paridade regra legal. A normalidade de antes pouco nos servirá hoje. Engana-se quem pense que representatividade signifique diversionismo liberal: quem o diz, tem receio de levantar da cadeira que há muito esquenta.
Não é trivial que a maior inovação até o momento — Ministério dos Povos Originários — venha de demandas sociais. No Brasil, não há razões para falta de equidade. Não faltam opções díspares na frente ampla, a começar pela tríade que apoiou Lula: Marina Silva, Simone Tebet e Eliziane Gama. Se a justificativa for meritocracia, tampouco procede. De Vilma Reis a Cida Bento, passando por Samira Bueno e Joenia Wapichana, não faltam opções em todas as áreas.
Lula e Alckmin, com razão, estão empenhados em unir as melhores mentes das eras tucanas e petistas, entre as quais há mais convergência do que em geral se dá crédito. Demanda-se hoje, no entanto, mais intersecção do que a compartimentalizada lista de grupos do gabinete de transição oferece. Equidade e clima são transversais; meio ambiente e agro devem ser pensados conjuntamente; e tecnologia é economia. Fará bem colocar em campo quem está cansado de esperar sua vez no banco de reserva: da espera fez-se a urgência. Cadê as mulheres, em especial negras, Lula? É 2023.
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