Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Poucos são os técnicos convictos de que jogar bem é a melhor forma de ganhar

Outros, para fazer média com o torcedor e com a imprensa, falam uma coisa e fazem outra

Tite observa Neymar em ação pelo Brasil
Tite observa Neymar em ação pelo Brasil - Adrian Dennis/AFP

Contra o Uruguai, o Brasil se limitou a dar a bola a Neymar, para que ele resolvesse sozinho. É muito pouco, nem é o caminho certo. Os outros, do meio para frente, foram discretos. O volante Wallace errou muitos passes fáceis.

O Brasil joga sempre as partidas não oficiais com seriedade, com quase todos os titulares, e ganha na maioria das vezes. É o campeão mundial de amistosos.

O Palmeiras, quando contratou Felipão, o especialista em torneios curtos de mata-mata, apesar do 7 a 1, uma ironia do destino, mirou a Copa do Brasil e a Libertadores e acertou em cheio o Brasileiro, com uma campanha excepcional, com 19 jogos sem perder.

De forma contraditória, Roger Machado foi demitido quando o time era o melhor da fase de grupos da Libertadores, continuava na Copa do Brasil e estava mal no Brasileiro.

Se Roger não tivesse saído, o que aconteceria? Não dá para saber. O time poderia estar pior ou até melhor.
Muitos adoram dizer que não existe “se” no futebol. Existe, para nos lembrar de que, às vezes, pequenos detalhes, acasos, fazem tudo ser diferente. Ensinam-nos que são tênues nossas profundas convicções. Muitos times se transformaram completamente, em uma competição, com a saída ou com a manutenção do treinador.

Cruzeiro e Grêmio possuem titulares do mesmo nível do Palmeiras, mas os elencos são inferiores. Se não tivessem atuado em tantas partidas com todos os reservas, disputariam o título. O Grêmio, com a saída de Arthur, as frequentes ausências de Luan e o esgotamento físico de Maicon, deixou de ser o time da posse de bola, da troca de passes e do comando do jogo.

O Internacional, vice-líder, é uma equipe organizada e com bons jogadores. Destaco o meio-campista Edenílson. 

O Inter atua melhor quando tem o trio no meio-campo, formado por Rodrigo Dourado, mais centralizado e recuado, Edenílson de um lado e Patrick do outro, além de dois jogadores pelos lados e um centroavante.

Quando perdem a bola, marcam com cinco no meio (o trio do meio-campo e os dois pelos lados). Quando a recuperam, quatro dos cinco avançam e se juntam ao centroavante.

Assim joga a maioria das equipes europeias. No Brasil, quase todas possuem dois volantes em linha e um meia de ligação, mais próximo do centroavante. É a dependência do clássico meia, do camisa 10.

O Flamengo, apesar de tantos jogadores caríssimos e famosos, fraqueja nas decisões. Uma das razões seria que os jogadores são mimados, sem força emocional, para colocar a alma em campo. Na vitória sobre o Santos, o time jogou pior que em outros jogos que perdeu.

Os treinadores que se contentam em ganhar de qualquer jeito, mesmo sem agradar ou jogando menos do que poderiam, pagam a conta mais à frente, seja pela queda brusca durante a competição, como com o São Paulo, seja quando enfrentam adversários mais fortes e são eliminados, como ocorreu com os brasileiros contra River e Boca, pela Libertadores.

Felipão disse que é um técnico de resultados, que nunca escondeu isso. Levir Culpi falou que é inteligência fazer um gol, segurar atrás e contra-atacar. São sinceros. Pensam como a maioria dos outros técnicos.

Outros, para fazer média com o torcedor e com a imprensa, falam uma coisa e fazem outra. Poucos são os treinadores convictos de que a melhor maneira de ganhar é jogar bem, comandar o jogo e torná-lo agradável de ver. São os pragmáticos sonhadores.

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