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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Jorge Jesus, que corre com atletas, tem atrevimento e sinceridade

Times brasileiros em geral ainda seguem reféns de clássicos meias de ligação

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Neste início de ano, os grandes times brasileiros, com exceção do Flamengo, que já está pronto, procuram definir as estratégias de jogo e os titulares.

No empate em 0 a 0, São Paulo e Corinthians mostraram um futebol superior ao do ano passado. Isso é animador. Foram mais ofensivos, trocaram mais passes, recuperaram mais a bola e deixaram menos espaços entre os setores.

Todos criticam os estaduais e falam que o Flamengo está em outro patamar, mas, quando Jorge Jesus diz a mesma coisa, é chamado de arrogante, como se apenas os brasileiros tivessem o direito de falar de nossas mazelas.

O que têm em comum Fernando Diniz, Luxemburgo, Tiago Nunes, Renato Gaúcho e quase todos os treinadores brasileiros? Todos são reféns dos clássicos meias de ligação. Os técnicos, a imprensa e os torcedores criaram um jogador imaginário, com uma expectativa muito acima da realidade. Parece até que temos um Alex, um Ronaldinho Gaúcho ou um Rivaldo.

Repito, pela milésima vez, que as melhores equipes do mundo não têm esse meia. Foram substituídos pelos meio-campistas, que marcam como volantes e avançam como meias. O Flamengo, disparadamente a melhor equipe brasileira, também não tem esse meia.

Uma razão óbvia para a pouca presença desse jogador é que não existe mais, como antes, espaço para ele jogar, pois os times são mais compactos e o meio-campo fica muito próximo da defesa e do ataque.

Tite vive uma situação parecida, ao escalar Coutinho entre os volantes e o centroavante. O melhor momento da seleção com o técnico foi nas eliminatórias para a Copa de 2018, quando jogava com um trio no meio-campo (Casemiro, Paulinho e Renato Augusto) e outro trio no ataque (Coutinho, Gabriel Jesus e Neymar).

Outra dificuldade dos times brasileiros é ainda ter muitos espaços entre os setores, com os zagueiros muito atrás, colados à grande área.

Vários técnicos, geralmente jovens, tentaram fazer diferente e foram logo despedidos. 

Por que funciona bem no Flamengo? Porque o técnico sabe fazer e os jogadores são bons. Mesmo assim, é o ponto vulnerável do time, pelos espaços deixados nas costas dos defensores. O goleiro Diego aprendeu, com Jorge Jesus, a jogar bem fora do gol.

Jorge Jesus passa instruções para seus jogadores durante a Supercopa do Brasil contra o Athletico-PR
Jorge Jesus passa instruções para seus jogadores durante a Supercopa do Brasil contra o Athletico-PR - Adriano Machado - 16.fev.2020/Reuters

Os times brasileiros erram demais o passe. A grande qualidade de um ótimo armador é dar o passe no limite, com o adversário perto do companheiro. O marcador acha que dá para interceptar, mas não dá.

Quando chega perto, a bola já foi tocada para outro e assim sucessivamente. Para ter essa virtude, é preciso talento e treinar o que vai ocorrer no jogo.

Um problema recorrente das equipes brasileiras é a falta de qualidade individual. No ano passado, o Atlético-MG tinha Elias, Luan, Cazares e Chará e já não era grandes coisas. Agora, sem eles, o time está muito fraco. E a culpa vai toda para Dudamel. O técnico, após a derrota para a Caldense, ficou indignado, exaltado, com razão, ao ver que o volante Zé Welison, que, aliás, é fraco, foi tratado como um criminoso, por ter cometido o erro de perder a bola, no segundo gol da Caldense.

Na coluna anterior, escrevi que os jovens são a esperança de um futebol e de um país melhor. Não são apenas os jovens, pela idade cronológica, mas também os veteranos, que unem a experiência e as novas e modernas ideias. O sessentão Jorge Jesus, que corre com os atletas durante os treinos, no mesmo ritmo, possui o saber, a inquietude, o atrevimento e a sinceridade dos competentes.

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