Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tostão

Futebol também é contaminado por versões que não são verdadeiras

Com as tecnologias atuais, as narrativas estão mais próximas da realidade

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Quando chego à janela de meu apartamento e vejo as ruas vazias, lembro dos filmes de guerra. A ficção tornou-se realidade. Quando começará a diminuição progressiva do número de infectados e de mortos?

Por outro lado, o coronavírus poderá salvar o mundo, quando acabar a epidemia, pois, provavelmente, haverá mudanças no comportamento de um grande número de cidadãos e de governantes.

Daqui a 100 anos, como a história contará a atual tragédia? Deduzo que, com as atuais tecnologia e informação, as narrativas estarão muito mais próximas da realidade e da verdade que no passado. Com o tempo, os fatos eram modificados pelas versões e pelos relatos pouco precisos, às vezes, literários.

No futebol, também é assim. Mesmo quando fomos testemunhas da história e contamos fatos de uma maneira diferente, prevalece o achismo, as deduções, as versões e os boatos.

Desde a Copa de 1970, falam que o ditador Garrastazu Médici exigiu de Zagallo a convocação de Dario.

O técnico convocou Dario e Roberto e dispensou os craques Zé Carlos e Dirceu Lopes, com o argumento de que havia um excesso de meio-campistas e nenhum centroavante, já que eu era um meia-atacante no Cruzeiro. Toninho Guerreiro, do Santos, o melhor dos centroavantes, tinha sido dispensado por contusão. O boato é de que o médico da seleção, que era o mesmo do Botafogo, teria inventado a lesão de Toninho, para que Zagallo pudesse chamar Roberto, também do Botafogo, time do treinador.

Contam muito também que houve uma ordem da nefasta ditadura para que ninguém falasse sobre política na seleção brasileira. Não houve essa ordem, mas não havia ambiente para isso, pois o desejo principal era se preparar muito bem e ganhar o Mundial. Um desejo bastante compreensível para os jovens que sonhavam com a glória.

Em uma entrevista para o Pasquim, único jornal brasileiro que contestava ostensivamente a ditadura, reclamei da falta de liberdade e elogiei dom Hélder Câmara, na época, bispo de Olinda, que era perseguido pela ditadura. João Saldanha, técnico da seleção, me deu um afetuoso abraço pela entrevista.

Várias histórias, em todas as áreas, muitas vezes, são contadas mais pelas exceções e também por discursos oportunistas e midiáticos do que pela realidade. Outras são impossíveis de serem confirmadas.

Há quase um consenso que, se Ronaldinho Gaúcho, que continua preso no Paraguai, tivesse brilhado por muitos anos, como fez nas duas temporadas pelo Barcelona, quando foi eleito o melhor do mundo duas vezes, ficaria na história no nível de Maradona ou de Messi. A maioria diz também que isso não ocorreu porque Ronaldinho perdeu o foco de atleta e passou apenas a se divertir, dentro e fora de campo.

Tenho dúvidas sobre tudo isso.

Penso que brilhou tanto no Barcelona porque encontrou, no clube, no time e na poética cidade, as condições ideias para unir sua técnica, sua fantasia e sua magia. A saída do Barcelona é, para mim, o fator principal da queda de Ronaldinho.

Ou os dois anos do jogador foram uma exceção, e não a regra?

Mesmo assim, Ronaldinho foi excelente na maioria dos times em que jogou após o Barcelona. Era criticado, porque queriam que ele jogasse no mesmo nível, o que era impossível.

No Atlético, em alguns momentos, foi tão espetacular, que chegou próximo do auge. Faltaram o prestígio e o glamour mundial do Barcelona.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.