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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Descrição de chapéu Maradona (1960-2020)

Maradona queria passar a bola, mas sempre tinha um inglês pela frente

O gol mais bonito das Copas foi a união do gênio com uma série de acasos

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No futebol e em todas as atividades, fazer diagnósticos e prognósticos baseados somente em estatísticas, informações e esquemas táticos é tão falho quanto descobrir doenças em listas de sintomas que estão nas redes sociais, sem a presença de um médico. O Google não é um bom médico.

Como escreveu José Miguel Wisnik, no livro "Veneno Remédio", há, no futebol, várias lógicas que se cruzam, alternam-se, completam-se. O acaso possui também uma lógica, a de ser comum, embora não saibamos onde e quando vai ocorrer, nem a favor de quem. São fatos aleatórios, técnicos, físicos e emocionais.

Há muitas outras lógicas inexatas, como as condutas dos árbitros de campo e de vídeo, que nos iludiu de que seria uma solução precisa, inquestionável, rápida e definitiva. O VAR chegou para confundir, como diria Chacrinha.

Falo muito do imponderável, mas sou apaixonado pela ciência, admirador dos treinadores e dos detalhes técnicos e táticos. O acaso e o talento podem caminhar juntos.

Na Copa de 1986, segundo relatos de Maradona, ele, quando recebeu a bola no campo da Argentina, pensou em passá-la ao companheiro, mas apareceu um inglês pela frente, e ele teve de driblá-lo. Assim, sucessivamente, Maradona queria passar a bola, mas sempre tinha um inglês, inclusive o goleiro, para ser driblado, até que fosse feito o gol mais bonito das Copas. Foi a união do gênio com uma série de acasos.

Maradona se vê obrigado pelo acaso a driblar Peter Shilton, o último inglês que deixou para trás no gol mais bonito da história da Copa do Mundo - Acervo - 22.jun.86/AFP

No futebol, em todas as profissões, na sociedade e na vida, detalhes técnicos, táticos e lances inesperados costumam mudar a história de um jogo, de um atleta, de um time, de um campeonato, de um país e do mundo. A vida é o encontro do desejo, dos fatos possíveis, emocionais e biológicos e do imprevisível.

No meio de semana, pela Copa do Brasil, detalhes decidiram as partidas. O Flamengo, no empate por 0 a 0 com o Athletico, teve cinco chances claras de gol e não marcou, por erros técnicos e porque as bolas passaram a centímetros do alvo.

O Athletico conquistou um ótimo resultado, pois é muito forte em casa. Não há mais favorito. O time paranaense marcou muito atrás, como se esperava, para depois contra-atacar, o que não conseguiu.

A qualidade das partidas tem sido inferior ao entusiasmo do público e dos estádios cheios. O São Paulo joga um futebol intenso, mas há pouca troca de passes e domínio da bola. Se o América não tivesse perdido um pênalti, o time paulista seria hoje criticado. Em BH, o Coelho tem chance de se classificar. Já o Fluminense, com a vitória por 1 a 0, fora de casa, sobre o Fortaleza, tem uma grande vantagem para chegar às semifinais da Copa do Brasil.

Depois das partidas, há sempre dezenas de explicações para as atuações, as vitórias e as derrotas. O técnico Vítor Pereira, após a derrota do Corinthians por 2 a 0 para o Atlético-GO, falou que a vitória, dias atrás, sobre o Atlético, prejudicou a equipe, que não teria tido a gana que teve no Mineirão. Se o Corinthians tivesse vencido o time goiano, o técnico poderia falar que a vitória sobre o Galo teria aumentado a confiança da equipe. Todas as explicações são bem-vindas. Viva a diversidade!

A estratégia e o talento individual são essenciais. Porém, com o desenvolvimento da ciência esportiva, existe, cada vez mais, uma tendência de valorizar a maneira de jogar e as decisões dos treinadores. É necessário valorizar mais os belos lances e formar atletas mais completos e inventivos, os protagonistas do espetáculo.

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