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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Brasil precisa derrubar alguns mitos que surgiram em Copas passadas

Um deles é o de ser o país do futebol, como se fosse o único

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Começa neste domingo (20) a Copa do Mundo no Qatar, com muitos protestos contra as rígidas e reacionárias leis, contra o comportamento, contra o cerceamento da liberdade e contra as violações aos direitos humanos. Parabéns aos jogadores holandeses, que vão sortear as camisas de jogo para os imigrantes e operários que construíram os riquíssimos estádios.

Em casa, verei todas as partidas. Apesar do calor, mesmo no inverno, deveremos ter uma Copa com muita intensidade, emoções, com muitos craques, com muita marcação por pressão para recuperar a bola e variadas estratégias. Os jogadores se movimentam tanto que não há mais motivo para a obsessão pelos desenhos táticos, se é uma linha de três ou quatro na defesa, se são três ou quatro atacantes e tantos outros detalhes.

O desenho tático muda a cada minuto. Ele é importante, como referência e quando os jogadores estão posicionados em seus lugares, antes de o jogo começar. Serve também para as televisões mostrarem, antes das partidas, o desenho na prancheta, embora, com frequência, sejam diferentes do que se vê em campo.

Na França, Mbappé ataca e defende pela esquerda - Franck Fife - 17.nov.22/AFP

O futebol é mais bem jogado onde há melhores condições financeiras. Com isso, melhoram a estrutura física de treinamentos, a formação de profissionais e o conhecimento científico. Assim ocorre em todas as atividades. Daí a tendência mundial, como no Brasil, de poucos times dominarem os campeonatos. Entre seleções, é diferente. Há mais equilíbrio entre muitas equipes.

No noticiário dessa semana, o grande destaque na seleção foi a presença de nove atacantes, maior número entre todos os países, como se todos entrassem ao mesmo tempo em campo e como se isso fosse uma demonstração direta de jogar um futebol bastante ofensivo. Tite é um técnico equilibrado e sabe a importância de defender e de atacar bem. Nestes quatro anos de preparação da seleção, o destaque maior foi o sistema defensivo, que levou pouquíssimos gols.

Se Tite escalar contra a Sérvia, como dizem, Paquetá no lugar de Fred, com mais dois atacantes pelos lados com Neymar e Richarlison pelo centro, não significa que será muito mais ofensivo que o habitual. Quando o time não marcar por pressão, Paquetá vai ser um segundo volante, ao lado de Casemiro, e os dois pontas vão recuar para marcar, formando uma linha de quatro com os dois volantes. Isso acontece, com frequência, em todo o mundo. Na França, Mbappé, pela esquerda, ataca e defende. Na Copa de 1970, Jairzinho fazia isso pela direita.

A goleada e a atuação vibrante da Argentina, dias atrás, no amistoso contra os Emirados Árabes, reafirma o fato de que Argentina e Brasil atuam, nessas partidas, como se fosse uma Copa do Mundo. Isso pode criar a ilusão de que os dois estão muito bem e que os europeus estão muito mal.

O Brasil precisa derrubar alguns mitos que surgiram nas Copas de 1958, 1962 e 1970, de que é o país do futebol, como se fosse o único, que só aqui surgem grandes craques em cada esquina, tantos dribladores, e que os europeus são apenas disciplinados e de cintura dura.

Tri em 1970 não foi meramente o triunfo da poesia - Acervo - 21.jun.70/AFP

Não é assim nem nunca foi. Após a Copa de 1970, o cineasta e escritor Pasolini escreveu que a poesia brasileira tinha vencido a prosa italiana. O Brasil era poesia e prosa, pois tinha muito talento individual e disciplina tática.

As narrativas costumam ser mais interessantes que a realidade. Escrever e falar é mais fácil que fazer, ainda mais quando se faz em silêncio, sem gestos e sem discursos midiáticos.

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