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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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O futuro não é destino, é o que se constrói

Estou preocupado com muitas coisas do futebol que se joga no Brasil

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Estou preocupado. A seleção brasileira continua sem treinador. Terminaram os campeonatos europeus e não há mais motivo para esperar Ancelotti ou outro treinador da Europa, prioridade da CBF.

Estou preocupado com a falta de um ótimo lateral, na direita e na esquerda, que ficou evidente na Copa de 2022, ainda mais que o Brasil já teve excepcionais jogadores nessas posições. Além disso, Thiago Silva encerrou sua carreira na seleção. Existem outros bons zagueiros, como Militão, mas nenhum craque como Thiago Silva.

Carlos Alberto Torres, lateral direito e capitão da seleção de 1970, levanta a Jules Rimet no México - Divulgação

Estou preocupado com a ausência, há muito tempo, de um ou dois craques meio-campistas, que joguem de uma intermediária a outra, que pensem e antevejam o jogo, que gostem de ficar com a bola, para atuarem ao lado de Casemiro. O futebol brasileiro passou a se preocupar mais em formar meias, pontas e atacantes velozes e dribladores. Os dois tipos de jogadores são essenciais. Além disso, não temos um artilheiro, um craque centroavante, como Kane, Benzema, Ronaldo, Romário, Reinaldo e outros.

Estou preocupado com Neymar, que continua contundido e não sabe em qual clube irá jogar. Ele e Vinicius Junior, as nossas grandes esperanças, precisam brilhar juntos, não um e depois o outro. O erro de Tite na Copa foi substituir Vinicius Junior durante a partida contra a Croácia. Em vários jogos do Real Madrid, Vinicius estava discreto e de repente fez jogadas inimagináveis.

Estou preocupado com a excessiva prioridade que a seleção e os times brasileiros, na média, dão ao futebol intenso, rápido e com pressa de chegar ao gol em detrimento da aproximação dos jogadores, da troca de passes e da espera do momento certo para tentar o gol. As duas posturas são importantes e podem coexistir em um mesmo jogo. Não tem de ser, obrigatoriamente, uma ou outra. O futebol é pensado, imaginado e jogado.

Estou preocupado com o futebol que se joga no Brasil, com muitos espaços entre os setores, com muitas bolas longas e cruzamentos para a área, com o excesso de partidas, com tantos gramados ruins, como o do Mineirão e o do Maracanã, além de tantos jogos tumultuados dentro e fora do campo.

Estou preocupado com tantos clichês, repetições, comentários prontos e estatísticas inúteis –muitas outras são essenciais. Alguns comentaristas bonzinhos adoram pedir convocação de jogadores para a seleção. Atletas e treinadores passam, rapidamente, de heróis a vilões.

Estou preocupado com a radicalização do país, cada vez maior, com a falta de ética e com a imoralidade pública que assolam o Brasil há tempos, com a incapacidade de unir o desenvolvimento e a proteção ambiental, com o descaso para solucionar rapidamente o gravíssimo problema de saneamento básico, uma vergonha, com a metade das moradias sem água tratada e esgotos.

Estou preocupado com o futuro do futebol brasileiro. Receio que a história conte que no Brasil, terra do eterno Rei Pelé, época em que o mundo parava para ver os jogadores brasileiros atuarem, se transforme aos poucos em um futebol comum, por causa da desorganização, da incompetência, da ganância e dos otimistas prepotentes. Além disso, o futebol europeu evoluiu e o do Brasil ficou para trás.

Precisamos evoluir. Não podemos nos acostumar com o domínio no futebol sul-americano de clubes, embora nem sempre isso ocorra. Além disso, os argentinos e os uruguaios são os atuais campeões mundiais de seleções nas categorias principal e sub-20. O futuro não é destino. O futuro é o que será construído.

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