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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Divagar é preciso

Futebol brasileiro precisa unir o drible e o passe, a improvisação e o planejamento tático

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Sempre que a seleção brasileira decepciona, o que tem sido frequente, e, ao mesmo tempo, acontece um belo gol no nosso futebol, como o do Botafogo sobre o Palmeiras, após um belo drible de Luiz Henrique, surgem os comentários saudosistas de que o Brasil precisa voltar às origens, jogar em um estilo mais bonito, com mais improvisação e com mais dribles.

Não é bem por aí. O Brasil já possui um grande número de ótimos dribladores,TT como Luiz Henrique, Estêvão, Vinicius Júnior, Rodrygo, Neymar, Raphinha, Savinho e outros. Eles são importantes. Porém, a carência está no meio de campo e na falta de valorização da posse de bola, da troca de passes e na capacidade de saber o tempo certo de cadenciar e acelerar.

Existe também uma lenda que o futebol brasileiro encantava e vencia no passado somente por causa do talento individual, da inventividade. Não é certo que a poesia brasileira goleou a prosa italiana na final da Copa de 1970, como disse o grande poeta e cineasta Pasolini. O time brasileiro era prosa e poesia, pois além do talento individual tinha um excelente e planejado jogo coletivo.

Lance da partida entre Palmeiras e Botafogo pelo Campeonato Brasileiro - Sergio Moraes/REUTERS

As seleções brasileiras campeãs do mundo em 1958 e 1962, mesmo com Garrincha, o maior driblador da história, destacavam-se também pelo talento coletivo. O meio-campista Didi, magistral no passe, foi eleito o melhor jogador da Copa de 1958. Em 1970, o maestro era o meio-campista Gerson, que jogava como se tivesse um mega computador ligado ao corpo, que mostrava e calculava tudo que acontecia em campo.

A seleção brasileira campeã do mundo de 1994 não tinha um grande driblador, mas possuía um genial centroavante (Romário) e excelentes jogadores em todas as outras posições. Como a equipe atuava no tradicional esquema tático inglês (4-4-2) e não tinha um camisa 10, meia de ligação próximo dos dois atacantes, era criticada por não ter o estilo brasileiro de jogar. Era uma seleção de muito talento e bastante organizada.

Raí, que era um excelente meia-atacante, perdeu a posição para Mazinho porque foi escalado pela direita, longe do gol, com função de marcação.

Em 2002, a seleção ganhou o penta com três supercraques no ataque: Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo. Não havia um ponta driblador. Os três se aproximavam por todo o ataque. Ronaldinho dava dribles belíssimos, mas era muito mais do que um driblador, um criador de efeitos especiais. Fazia de tudo com enorme técnica e precisão.

A presença de pontas, exímios dribladores que eram frequentes no passado, voltaram a ser habituais mais recentemente.

O futebol brasileiro precisa unir o drible e o passe, a improvisação e o planejamento tático, como fizeram Botafogo e Palmeiras, uma bela partida.

Como os times e as seleções de todo o mundo pressionam cada vez mais, quem está com a bola em todo o campo, desde o goleiro, precisa desenvolver a capacidade de ultrapassar esta marcação. Colômbia e Uruguai pressionaram o Brasil que não conseguia ficar com a bola por causa da eficiente marcação e pela falta de mais talento e habilidade do meio-campo. É urgente diminuir esta deficiência.

Se, nas últimas décadas, vários garotos talentosos no meio-campo foram mudados de posições e passaram a atuar como meias-atacantes e pontas dribladores, não seria possível fazer o contrário, transformar alguns meias ofensivos e pontas habilidosos, como Martinelli, Estêvão em meio-campistas, bons no passe e no drible, para sair da marcação por pressão?

Não sei se daria certo. É necessário tentar. Divagar é preciso.

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