Txai Suruí

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Txai Suruí
Descrição de chapéu desmatamento

É preciso votar pela Amazônia e transformar esse Congresso

Não podemos continuar aceitando viver num lugar assim

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Na quarta-feira, dia 7, acordei com um aperto no peito. Uma tristeza profunda. Apreensiva. Era uma manhã nublada, mas não tão fria quanto as anteriores. A previsão do tempo era de sol, mas com possíveis pancadas de chuva. Aprendi com o povo uru-eu-wau-wau que sol com chuva é um mau presságio. Torci para que não.

No dia em questão o Brasil comemorava a sua Independência. O nome da minha terra indígena é "Sete de Setembro", em referência à data do contato do meu povo com o não indígena. Perdemos a nossa autonomia no mesmo dia em que o Brasil ganhou a sua. Independência para alguns, morte para nós desde 1500.

Imagem do dia dos primeiros contatos do povo suruí com não indígenas - Txai Suruí/Arquivo pessoal

Lembrei-me das histórias contadas pelos mais velhos da época do contato, das guerras e das doenças que levaram nosso povo de 5.000 a 290 pessoas, quando fomos quase extintos. Como antes do contato nosso território era muito maior, nossa água não era afetada pelo garimpo ou pelos agrotóxicos e nossa floresta não estava sob perigo. Pensei em todo o meu povo, a nossa forma de nos organizar, a nossa cosmologia e toda a nossa resistência até aqui para continuarmos mantendo nossa cultura.

Hoje, como nunca, este país nos ataca, nos massacra e quer acabar com nossos territórios. No extremo sul da Bahia, há mais de três meses o povo pataxó vem sendo aterrorizado com ameaças, tocaias e tiroteios praticados por homens encapuzados e portando gás lacrimogêneo, fuzis, escopetas e rifles. Isso levou ao assassinato de um menino de 14 anos.

Sabendo das manifestações chamadas pelo presidente e da crescente violência em nosso país por motivos políticos, decidi que o melhor era não sair. Pensei nos casos do bolsonarista que invadiu a festa de aniversário e matou o aniversariante por votar em Lula e do outro bolsonarista que matou um fiel dentro da igreja por que ele votaria no PT.

Imagem do dia dos primeiros contatos do povo suruí com não indígenas - Txai Suruí/Arquivo pessoal

O próximo dia (8) seria a estreia do nosso filme, "O Território", do qual sou produtora-executiva e que foi coproduzido pelo povo uru-eu-wau-wau. O filme mostra as consequências deste governo para os povos indígenas e para o meio ambiente. Alguns membros da comunidade viriam participar. No translado para São Paulo, em Porto Velho (RO), meu amigo é espancado e vai parar na UPA por não ter feito a mesma escolha que eu de não sair.

Não podemos continuar aceitando viver em um lugar assim. Não podemos perder a capacidade de sentir empatia, de se revoltar com a realidade e de não se acostumar com a intolerância. Não existe independência num país que não respeita seus povos.

Para mim, é cada vez mais claro que o caminho para mudar isso é votar pela Amazônia, eleger candidatos indígenas e transformar esse Congresso.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.