Txai Suruí

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

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Txai Suruí

Democracia enfraquecida

Você sabe o que é viver com medo, sendo ameaçado ou já temeu pela sua vida?

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Uma placa avisava "Área de conflito". Um clima tenso pairava no ar, como se algo pudesse acontecer a qualquer momento. Um cenário de guerra no meio da Amazônia. Como se uma bomba tivesse explodido ali e só sobraram cinzas e carvão. Toda a cor, todo o verde, toda a vida já não estavam mais ali. Todas as árvores tinham sido derrubadas e a área foi toda queimada. Sem árvores, o rio está secando. Uma tristeza profunda apertava o coração. Essa é uma invasão anterior à entrada de uma das aldeias da Terra Indígena Uru Eu Wau Wau.

Fazia mais de um ano que não ia naquela aldeia. Agora a invasão tem várias cercas e algumas com a bandeira do Brasil pendurada. Muitas outras estradas foram abertas. O cenário está tão irreconhecível que acabamos nos perdendo em uma dessas novas estradas. Lembrei-me quando queimaram as pontes de acesso à aldeia em um dos avanços da invasão, impedindo que os indígenas pudessem entrar ou sair, e que por causa da violenta situação foi necessária a escolta da Polícia Ambiental para que a equipe de saúde indígena pudesse levar as vacinas da Covid-19 para dentro do território.

Quando chegamos na aldeia nos reportaram que dois indígenas estavam sofrendo ameaças, pois alguém denunciou que as invasões estavam adentrando a Terra Indígena. Os invasores acusam os indígenas que com medo quase não saem da aldeia e nunca saem se já tiver anoitecido. É muito perigoso. Você sabe o que é viver com medo ou sendo ameaçado? Você já temeu pela sua vida?

No último dia 8 deste mês, na região de Porto Murtinho (RO), aconteceu um encontro de fazendeiros e empresários bolsonaristas que convocaram moradores para amedrontá-los dizendo que eles perderão suas terras caso Bolsonaro não seja reeleito pois elas seriam tomadas para virar terra indígena. No encontro foi mostrado um vídeo com textos sobre uma área que está sendo reivindicada pelos indígenas da região com um mapa que não condiz com real o território reivindicado.

Os indígenas dos povos migueleno, cujubim e puruborá que vivem na região estão sendo intimidados e ameaçados que depois do vídeo circular pelos arredores estão recebendo "piadinhas". Daiane, uma das líderes da comunidade, teve uma das tábuas de sua casa arrancadas, não se sabe se para tentar invadir ou para intimidá-la, enquanto ela estava sozinha com seu bebê. Diante do medo, o Ministério Público foi acionado.

Outro vídeo circula na região de Alta Floresta, perto do território do povo tupari. Um dono de um dos comércios da cidade ameaça que, se algum funcionário votar no Lula, será demitido e que na segunda, se Bolsonaro vencer, terá folga e eles farão uma festa.

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