Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu indústria

Alta do café traz sinal vermelho para as indústrias do setor

Demanda aquecida e oferta menor levam os preços do café para patamar superior a R$ 700 por saca

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Acendeu o sinal vermelho nas indústrias de café. O preço da matéria-prima disparou e está deixando as empresas de menor porte sem condições de equilibrar os gastos com as receitas.

A saída para muitas é uma desaceleração das atividades ou até mesmo uma interrupção, à espera de um cenário mais confortável, segundo Nathan Herszkowicz, presidente do Sindicafé (sindicato da indústria no estado de São Paulo).

A alta acelerada do café ocorre devido a uma produção menor no Brasil e em outros concorrentes do país. Além disso, há uma expectativa da volta de um consumo normal nos Estados Unidos, Europa e Ásia a partir do segundo semestre, com o avanço da imunização da população contra a Covid-19.

Nathan diz que, quando se olha para oferta de matéria-prima e preços, as perspectivas para este ano e o seguinte não são boas. O pior, segundo ele, é que não é cena dos produtores em busca de valorização de seu produto, mas uma queda real da oferta.

As dificuldades das empresas pequenas e médias se acentuam tanto pela concentração no próprio setor, onde as grandes têm uma vantagem competitiva, como pela concentração do varejo, que dificulta qualquer reajuste de preços.

Tradicionalmente, o setor de café é um dos que têm os menores reajustes de preços ao consumidor. Os dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) indicam que o café teve alta de 45% no campo nos últimos 12 meses.

A alta acumulada nos supermercados foi de 8,8% em 2020, bem abaixo da média de 16% da alimentação em geral. Alguns produtos, como arroz e óleo de soja, têm maiores possibilidades de recomposição. Em 2020, o cereal subiu 77%, e o derivado de soja, 116%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Os números da safra de café e os das exportações apontam para um quadro apertado, sendo que indústria e governo não têm estoques.

Neste ano, a produção de café deverá ficar um pouco abaixo dos 50 milhões de sacas, conforme números ainda provisórios da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). No ano passado, foram colhidos 63 milhões.

O consumo interno é de 22 milhões de sacas.

As vendas externas brasileiras mostram o quanto o mercado externo está repondo seus estoques. Nos últimos dois anos, pela primeira vez, o país ultrapassa a média de 40 milhões de sacas exportadas. No ano passado, foram 44,7 milhões, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

O país tem 1.400 indústrias, e as que estão comprometidas com um padrão de qualidade têm de manter esse patamar diante dos consumidores para não perder imagem, segundo Nathan.

Atualmente, uma empresa que coloca o café a R$ 14 por quilo no supermercado tem receita apenas para cobrir o custo de R$ 600 por saca. Os custos, no entanto, são bastante amplos e não se limitam apenas à matéria-prima, segundo ele. A saca de café custa atualmente R$ 760.

Se as indústrias têm um sério problema de custos, as cafeterias são vítimas dessa prolongada pandemia. O preço do café acaba sendo pouco relevante para essas empresas, mas a falta de consumidor é fatal.

Foi o que levou a Suplicy Cafés Especiais a fechar as portas de algumas unidades, ao ver o movimento cair abruptamente.

“Estamos voltados para o mercado corporativo, e a circulação de pessoas em prédios e escritórios são importantes para a manutenção das lojas”, afirma Marco Suplicy.

A empresa, que chegou a perder 99% do faturamento no início da pandemia, ainda mantém lojas fechadas. Outras estão abertas, mas com movimento bem menor do que o normal, e há esperança de reaberturas nos próximos meses.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.