Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vaivém das Commodities

Mandioca perde espaço para soja, oferta cai e preços sobem

Alta do produto torna ainda mais difícil escolha dos consumidores pela alimentação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A maior inserção do Brasil no mercado internacional de alimentos faz com que o consumidor brasileiro de baixa renda tenha mais dificuldades no acesso à alimentação.

Há um aumento constante de produtividade, principalmente para produtos voltados para o mercado externo, mas não o suficiente para garantir oferta e preços adequados para produtos de uso no mercado interno.

Há uma prioridade por commodities com liquidez internacional, e que tragam renda maior ao produtor, como ocorre com a soja. Na última década, a área da oleaginosa avançou sobre todas as demais culturas, inclusive sobre pastagens.

Grãos de soja caidos em estrada rural durante colheita, nas proximidades de Londrina-PR - Sergio Ranalli - 4.mar.2021/Folhapress

A área de soja foi de 39 milhões de hectares na safra que terminou e superará 40 milhões na que está sendo semeada. Essa área indica uma evolução de 63% em relação à destinada ao produto há dez anos.
Nesse mesmo período, os alimentos básicos, e praticamente voltados para o mercado interno, como arroz e feijão, perderam espaço para a leguminosa.

Agora chegou a vez da mandioca. Essa cultura vem perdendo área de cultivo, que se acentuou nas últimas safras devido à falta de rentabilidade no setor. O resultado foi um abandono de parte dessa área para o cultivo de soja e de pastagens. A leguminosa e o boi atingiram preços recordes.

Na última década, o espaço de cultivo destinado ao arroz foi reduzido em 40%. Só os gaúchos repassaram pelo menos 200 mil hectares do cereal para a soja.

O feijão perdeu 27% da área, e a mandioca, 41%. A redução de área diminui oferta e eleva preços internos desses alimentos básicos, os mais acessíveis à classe de baixa renda.

A tonelada de mandioca valia R$ 398 em novembro de 2018 no noroeste do Paraná, um dos líderes na produção. O preço atual atinge R$ 697, com uma evolução de 75% no período, conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

A alta desse produto torna ainda mais difícil a escolha dos consumidores pela alimentação, uma vez que, nesse mesmo período, os demais produtos básicos também seguiram tendência de alta no campo. Essa evolução de preços chega rapidamente às feiras e às gôndolas dos supermercados.

Dados do Cepea mostram que os produtos básicos tiveram um salto nos preços nos últimos três anos nas propriedades rurais.

A escolha do consumidor fica difícil, uma vez que a alta que vem do campo engloba arroz, ovos, carne de frango, feijão, mandioca, leite e trigo, além de produtos com maior valor agregado como as carnes suína e bovina. Esses aumentos variam de 60% a 115% em três anos.

A mandioca é mais um novo componente da inflação. Neste ano, o produto teve alta de 10% no varejo paulistano e acumula 20% em 12 meses, conforme dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Fábio Isaías Felipe, pesquisador do Cepea, diz que a perda de rentabilidade da cultura da mandioca nas últimas safras foi a mola propulsora para o agricultor trocar esse produto por cultivo de grãos e pecuária.
Além disso, houve uma tempestade perfeita neste ano, com geada e seca, o que resultou em uma perda de teor do amido, essencial nessa atividade.

As grandes culturas, como soja, milho e algodão, são acompanhadas por intensos investimentos em tecnologias. São rentáveis, têm liquidez e comportam esses custos.

Não é caso da cultura da mandioca. É uma atividade cara e está defasada em termos de tecnologias de produção, segundo o pesquisador do Cepea.

Voltada basicamente para o mercado interno, a produção de mandioca não tem o benefício do câmbio, que irriga os produtos destinados ao mercado externo.

A cultura sofre, no entanto, os efeitos da forte depreciação do dólar, uma vez que se utiliza de fertilizantes e de produtos químicos importados, o que eleva os custos do setor, afirma Felipe.

Área e produção têm queda constante, segundo o pesquisador. De segundo maior produtor mundial, o Brasil caiu para o oitavo posto atualmente. Neste ano, a produção deverá ficar em 18,6 milhões de toneladas, segundo projeção do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A alta de preços desaqueceu o mercado interno, o que permitiu ao setor colocar 28,8 mil toneladas de fécula no exterior, até outubro. No ano passado, foram 13,8 mil de janeiro a dezembro. O dólar elevado tornou o produto brasileiro mais competitivo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.