Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu inflação juros Rússia

Guerra começa a ser sentida com mais força no bolso do consumidor

Pressão nos preços internacionais e nacionais não tem data para acabar

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Os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia começam a chegar mais fortemente ao bolso dos consumidores. A redução da oferta de produtos essenciais deles no mercado e a elevação de custos que os dois países provocaram na agricultura mundial fizeram os preços mudar de patamar. No Brasil, ocorreu tanto no campo como no varejo.

Essa pressão nos preços internacionais e nacionais não tem data para acabar. A continuidade da guerra não permite a volta dos dois países ao mercado externo e dificulta uma redução dos custos de produção no mundo todo. A Ucrânia é grande fornecedora de grãos, e a Rússia, de grãos e de fertilizantes.

O conflito, que completou 40 dias nesta segunda-feira (4), não gera mais uma pressão forte como no início. Os preços, no entanto, continuam voláteis e em patamar bem acima do anterior à guerra.

Corredor de um supermercado em São Paulo - Mathilde Missioneiro -8.abr.20/Folhapress

No caso brasileiro, há uma oferta menor de alguns produtos devido à redução de produção pelos agricultores, em vista dos elevados custos, que já vinham ocorrendo desde o ano passado. É o caso do leite.

Dados do varejo da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), divulgados nesta segunda-feira, comparados com os do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), que refletem o campo, mostram que a pressão aumenta.

O trigo foi o produto que teve o maior impacto nos preços nas últimas semanas no mercado externo, com reflexos no interno, que já estava com valores elevados.

O pãozinho e a farinha de trigo acompanharam os passos do cereal. Em março, o primeiro teve a maior alta do ano, subindo 3,1% nas padarias, enquanto estas passaram a pagar 2,52% a mais pela farinha.

Os preços do trigo começam a se acomodar no mercado externo, após aceleração em fevereiro, mas em patamares mais elevados do que os do período anterior à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Mais acertos de preços virão na farinha e no pãozinho, uma vez que os moinhos vão começar a adquirir o trigo com valores médios maiores por tonelada.

Rússia e Ucrânia têm pouca importância na produção de soja, mas os ucranianos são os maiores exportadores de óleo de girassol e estão com dificuldades para colocar esse produto no mercado externo. O resultado foi um aumento de 6% nos preços do óleo de soja para os consumidores brasileiros apenas em março. O óleo de girassol ficou 3% mais caro nos supermercados.

O milho, após a disparada de preços nos dois últimos anos, mantém a saca próxima de R$ 90 na região de Campinas, segundo o Cepea. É um valor que resulta em pesados custos para os produtores de ração e de proteínas, respingando nos consumidores.

O fubá subiu 6% nos supermercados em março, acumulando 39% em 12 meses. A Ucrânia é a quarta maior exportadora de milho e concorrente do Brasil no mercado externo.

O arroz e o feijão, que vinham com tendência de queda nos preços, voltaram a subir em março. O cereal, devido ao aumento da demanda interna e externa. Já a leguminosa teve um clima desfavorável durante a evolução das lavouras na primeira safra.

O preço do leite disparou. O tipo longa vida subiu 7,8% no varejo no mês passado, segundo a Fipe. Demanda menor em 2021 e custos elevados fizeram boa parte dos produtores diminuir os investimentos no setor, segundo o Cepea.

Outro fator de aumento dos preços foram as negociações externas. As exportações brasileiras de lácteos aumentaram 116% no primeiro bimestre, em relação ao mesmo período do ano passado.

O Cepea reserva para o café a maior alta no campo nos últimos 12 meses. A evolução foi de 76%, percentual que a Fipe também confirma para o varejo. Estoque internacional menor e preocupações com a safra brasileira sustentam a bebida.

O preço do açúcar começa a ficar estável para o consumidor, mas em um patamar elevado. O quilo do produto teve valorização de 46% nos últimos 12 meses no varejo.

As carnes perderam a pressão que registravam havia oito meses, mas ainda estão com valores elevados. A bovina, que teve o valor médio da arroba em R$ 345 no campo em março, acumula alta de 11% em 12 meses. No varejo, o aumento foi de 1,3% no mês passado, chegando a 13% em 12 meses.

O frango manteve preços estáveis no supermercado, e a carne suína caiu 1% em março. A queda da carne de porco, na granja e no varejo, resulta de recuo das exportações.

As exportações brasileiras cresceram com a demanda da China nos últimos três anos, mas os chineses voltaram a produzir mais e a importar menos neste ano.

A guerra no Leste Europeu mexeu também com os preços do etanol hidratado. Com quedas contínuas neste ano nas bombas, o hidratado teve a primeira alta mensal em 2022, subindo 1,13%, segundo a Fipe.

A alta do petróleo, devido à importância da Rússia no setor, tornou a gasolina mais cara, permitindo um reajuste do etanol nas bombas. Esse aumento vem exatamente quando o setor inicia a safra 2022/23.

Os custos de produção elevam também os preços dos ovos e dos produtos "in natura". Em janeiro, o consumidor pagou 1% a menos pelos ovos do que em dezembro. No mês passado, a alta foi de 12% sobre fevereiro.

Já os hortifrútis, afetados pelo clima e por aumentos de insumos, principalmente fertilizantes, mantêm altas bem acima das da inflação.

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