Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Sem alta de renda, consumidor interno terá dificuldade para competir pelos alimentos

Mercado externo determina demanda internacional e dá os custos internos para os produtores nacionais

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O custo da alimentação vai continuar pesando no bolso do consumidor no próximo ano. Por mais que boa parte dos preços tenha se estabilizado, o recuo dos elevados patamares atingidos ainda está distante.

As maiores dificuldades virão para os 62,5 milhões de brasileiros que estão na linha de pobreza, conforme os dados mais recentes do IBGE. Pior ainda para os 17,9 milhões que estão em situação de extrema pobreza.

O celeiro do mundo, como o Brasil gosta de ser chamado, está nas mãos do mercado externo. Ele determina a demanda internacional, os preços externos e dá os custos internos de produção para os produtores nacionais.

Início do plantio de trigo no Paraná; área localizada em Sertaneja, no Norte Pioneiro do estado - Mauro Zafalon/Folhapress

Os dados de novembro da FAO indicam uma estabilidade internacional nos preços médios dos alimentos, em relação ao mês anterior. Os cereais, porém, ainda acumulam alta de 6,3% em 12 meses; e as carnes, de 4%. A população perdeu renda, e os preços da comida continuam elevados.

O Brasil está em uma encruzilhada. Produz muito alimento, mas gera pouca renda. A equiparação dos preços internos dos alimentos com os internacionais, devido às exportações brasileiras, vai colocar o consumidor nacional de menor renda cada vez mais distante dos alimentos.

Internamente, os preços também continuam elevados. A produção recorde que o país comemora ano a ano não serve de alívio para os preços, uma vez que boa parte desses produtos vai para o mercado externo.

Produtos destinados basicamente ao mercado interno vêm sofrendo um desincentivo ao plantio e elevação de custos. Eles não têm a benesse dos exportáveis, que também têm custos elevados, mas a alta do dólar gera mais reais internamente.

Parte dos produtos basicamente voltados para o mercado interno também se torna competitiva no externo, dando ainda mais pressão nos preços. A mandioca, por exemplo, que teve parte de sua área desviada para a produção de soja, atrai a atenção dos estrangeiros. Portugal, Estados Unidos e Japão são os principais clientes do Brasil.

Área menor, clima desfavorável e, em parte, as exportações elevaram o valor da tonelada para o recorde de R$ 1.000. Além de pagar mais pela raiz, o consumidor gasta 42% a mais pela farinha de mandioca no supermercado, conforme dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

O consumidor de baixa renda tem dificuldades, ainda, para adquirir outros produtos básicos, como farinha de milho e fubá. O Brasil exportou 119% mais milho em grãos neste ano do que no anterior. O mercado externo dá suporte aos preços internos. Com isso, o fubá está com preços 69% superiores aos de há um ano; e a farinha de milho, 62%.

O arroz, outro produto básico que perde área para a soja, teve aumento de 80% nas exportações até novembro, em relação ao ano anterior. Os preços, que estavam estáveis, voltaram a subir internamente. México, Senegal, Venezuela e Cuba são os principais interessados no cereal brasileiro.

As exportações também sustentam as proteínas. A arroba de boi até recuou no campo, mas as vendas externas de 200 mil toneladas por mês seguram os preços.

O óleo de soja, ingrediente diário na cozinha da maioria dos brasileiros e que pela primeira vinha tendo uma estabilização nos preços internos, pode voltar a subir.

Os preços atuais, no entanto, ainda estão distantes dos de há dois anos. Em 2020, a alta foi de 116%. Acompanhamento da FAO indica que os óleos vegetais estão retomando fôlego no mercado externo.

Este é um mercado descoberto pelo Brasil nos dois últimos anos. Em 2020, as vendas externas somavam 915 mil toneladas. Neste ano, até novembro, já atingem 2,2 milhões de toneladas, de acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Mas não é apenas o mercado externo que traz alta de preços para o mercado interno. Produzir no Brasil ficou caro. O país depende praticamente de importações de todos os insumos de produção.

Muitos produtores de leite, frutas, verduras e legumes, devido aos altos investimentos, reduziram suas atividades. Clima desfavorável e redução de oferta deram um novo rumo para os produtos "in natura" neste ano. Sobem 3,2%, enquanto nos anos anteriores este era um período de queda.

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