Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Produtividade maior e presença menor da China ajustam estoques mundiais

Preço internacional cai e tendência só será mudada com eventual efeito do clima

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Os produtores paranaenses de milho viveram uma semana de tensão em várias áreas do estado devido ao frio intenso. A expectativa se mantém nas próximas semanas.

O estado deverá produzir um recorde de 14,2 milhões de toneladas nesta segunda safra, o que vai ajudar o país a atingir 126 milhões durante toda a safra 2022/23, segundo previsões da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

A safra é grande, mas os preços encolhem, o que é uma tendência mundial. Após uma forte aceleração, provocada pela maior presença da China no mercado internacional e por conflitos geopolíticos, o clima será decisivo nesta safra para a produção em áreas sujeitas a geadas do Brasil e para o desempenho da safra americana.

Rogério Trannin de Mello, diretor comercial da Coamo Agroindustrial Cooperativa, diz que as projeções são de uma boa recuperação da safra mundial, mas o clima será um elemento que poderá mudar esse cenário.

É possível uma visão mais clara sobre a demanda provocada por renda, por produção, pela evolução da população e pela produtividade, mas é muito difícil uma previsão dos efeitos do clima, afirma o diretor.

Um dos motivos da alta dos preços nos últimos anos foi um erro nos dados de estoques de milho da China, detectado a partir de 2019. Os chineses entraram de repente no mercado mundial com potencial de compra de 30 milhões de toneladas do cereal, mas a demanda era de pelo menos 50 milhões quando incluídos outros grãos.

A maior procura por milho no mercado internacional levou parte dos produtores a elevar a produção do cereal, em detrimento da soja. Com isso, a oleaginosa também teve alta.

Pessoa segura sabugos de milho
Milho orgânico produzido por assentados da reforma agrária - Divulgação

O milho deixou de ser segurança alimentar na China. O produtor plantou menos, os estoques caíram e os chineses foram ao mercado, afirma Mello.

Dados do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) mostram que os chineses, que importaram 7,6 milhões de toneladas de milho na safra 2019/20, elevaram o volume para 30 milhões na safra seguinte. Em 22/23, serão 18 milhões.

Ao mesmo tempo, os chineses também elevaram as compras de outros grãos, como o sorgo. O volume subiu de 3,7 milhões de toneladas em 2020 para 8 milhões neste ano. O consumo desse produto na China saltou de 6,8 milhões de toneladas na safra 2019/20 para 14 milhões em 2021/22.

A China se tornou uma grande compradora no mercado internacional, mas a tendência é de uma diminuição no ritmo do consumo de proteínas, por questões de saúde, e, consequentemente, haverá também uma pressão menor na demanda por matérias-primas.

Há um componente importante, ainda, que é o aumento da eficiência da produção. A elevação da produtividade e uma redução no ritmo do aumento da população reduzem o efeito China sobre o mercado.

Com pressão menor da China, o grande crescimento se volta para a África. O consumo de proteínas e de grãos, porém, necessita de renda, um elemento escasso no continente africano. Mesmo o crescimento do Sudeste Asiático anda não consegue suplantar a evolução da produtividade. Com isso, os estoques mundiais ficam mais confortáveis, afirma Mello.

O que pode mudar esse cenário, reafirma, é o clima. Isso força o produtor a buscar travas para seus custos e jogar com segurança, afirma o diretor da Coamo.

O agricultor vem sendo muito disciplinado na comercialização desde o início da década, quando, em 2004, comprou os insumos na alta e vendeu a produção na baixa. Mas, em 2019, os preços subiram. Nos anos seguintes, voltaram a subir, e em plena safra, o que levou parte deles a acreditar em novas altas neste ano.

Contudo, os preços estão em queda em um período em que há atraso na comercialização. Boa parte da safra deixou de ser vendida na alta, e o produtor volta a viver um cenário de 20 anos atrás, afirma Mello.

José Cícero Aderaldo, vice-presidente da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, também acredita que o clima será decisivo na produção de milho neste ano. Se for confirmado um clima ruim durante o desenvolvimento das lavouras dos Estados Unidos, o Brasil ganhará importância no mercado internacional.

Aderaldo acredita que o Brasil tenha capacidade para exportar um volume superior a 50 milhões de toneladas. O Usda, tomando como base o ano comercial, que é diferente do calendário adotado pela Conab, prevê exportações brasileiras de 54 milhões de toneladas em 2022/23 e de 57 milhões em 2023/24. A Conab prevê 48 milhões no período de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024.

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