Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Alimentos refletem queda no campo e têm deflação no varejo após 31 semanas de alta

Patamar de preços ainda é elevado, uma vez que a alta foi de 57% nos últimos quatro anos

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Após 31 semanas de alta, o preço médio dos alimentos parou de subir e registrou deflação em São Paulo. A queda no varejo é de apenas 0,01%, mas já começa a refletir as seguidas reduções no campo, uma tendência que se acentuou ainda mais em maio.

Vários produtos no campo, como boi, soja e milho, caem para os menores valores de negociação dos últimos dois anos. De 2019 ao fim de 2022, os alimentos, puxados pela alta do dólar e pela demanda externa, acumularam aumento de 57% no varejo brasileiro.

Neste ano, com a taxa de câmbio interna e os preços internacionais mais acomodados, os alimentos recuam no campo e ficam mais acessíveis para o consumidor. De janeiro a maio deste ano, a alta foi bem menor —de 2,2%.

A desaceleração dos preços internos ocorre também por uma demanda menor. Os reajustes foram fortes nos últimos anos, os preços não voltaram ao normal e os consumidores continuam com o poder de compra limitado.

Feira livre no bairro de Perdizes, em São Paulo - Danilo Verpa - 9.ago.22/Folhapress

As quedas, porém, afetam mais os produtos destinados à exportação, enquanto os internos, como feijão e arroz, ainda sobem, embora em ritmo menor.

O arroz, após queda de 0,54% nos preços de abril, ficou 2,4% mais caro no mês passado nos supermercados. No campo, os preços caíram 6,3% em maio, o que deverá se refletir nos supermercados nas próximas semanas. O feijão parou de subir.

No acumulado do ano, esses dois produtos ainda mantêm aumentos de 8%, bem acima da média de variação dos demais alimentos, conforme dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

O volume da safra brasileira também determina o comportamento dos preços no mercado interno. Enquanto a produção de arroz é a menor em 25 anos, as de milho e de soja nunca tinham atingido patamares tão elevados.

As quedas tão acentuadas no campo colocam a liquidez de produtores de algumas regiões do país em risco. O milho, com estimativas de uma produção de até 130 milhões de toneladas, teve queda de 18% nos preços do mês passado, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

A saca, que atingiu R$ 104 em março de 2022 em São Paulo, está em R$ 54 atualmente. Ruim para o produtor, bom para o consumidor. As recentes altas do cereal fizeram com que o preço da farinha de milho e do fubá dobrasse nos supermercados. Agora, os preços começam a recuar.

A soja, também com produção recorde, estimada em 155 milhões de toneladas, passa por um ajuste de preços no campo. A saca, que estava em R$ 195 no Paraná há um ano, caiu para R$ 128 atualmente.

A reacomodação dos preços da oleaginosa permitiu uma queda no óleo de soja e em outros derivados. Após acumular elevação de 164% nos quatro anos anteriores, o óleo está com queda de 17% de janeiro a maio deste ano.

A tendência de queda também afeta as carnes. A arroba de boi gordo recuou 10,4% em maio. Após ter atingido R$ 352 em março de 2022, terminou o mês passado em R$ 243, segundo o Cepea.

Além de o mercado chinês, o principal para o país, ter ficado fechado para as compras dessa proteína brasileira por um mês, devido ao caso atípico de vaca louca, a oferta de gado aumentou no primeiro trimestre, de acordo com o IBGE. Há um descarte maior de fêmeas.

A pressão menor na carne bovina reflete também na suína e na de frango, que têm quedas no campo e nos supermercados. Além de uma oferta maior dessas proteínas no mercado, o consumidor continua com restrições nas compras.

O pãozinho e os derivados de trigo também aliviam um pouco o bolso do consumidor, segundo a Fipe. Passada a fase mais aguda de abastecimento, ocorrida após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços externos caíram e, internamente, os moinhos restringem as compras. A safra brasileira foi recorde e a queda de preços no campo começa a ser transferida para o varejo.

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