Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Para CNA, 2023 é de safra cheia e bolso vazio

Preços caem e margens de ganho recuam no período, segundo a entidade

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Este não foi um ano fácil para o agronegócio. Adversidades climáticas, queda de preços internos e dificuldades externas vão fazer com que o produtor obtenha menos receitas e margens menores.

Além disso, "esse governo que está aí instalado é um governo difícil, por uma razão muito simples: alguns não entendem que o agronegócio é uma coisa que tem de correr à parte".

Essa a avaliação de João Martins, presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) ao fazer um balanço da agropecuária neste ano e apontar as perspectivas para 2024.

Logo na sequência, no entanto, o presidente da entidade afirmou que "até agora não houve nenhum impedimento para se discutir nenhum problema". O diálogo ocorre com os ministérios da Agricultura, do Trabalho, da Indústria e até do Meio Ambiente. Este último por meio das secretarias.

Martins afirma, no entanto, que a interlocução com o governo anterior era mais fácil porque ele estava mais ligado à classe. "Tínhamos mais diálogo porque muitos dos ministros anteriores eram da classe", afirmou. "Estamos tentando entender um pouco mais as propostas deste governo", completou. A CNA apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro em 2022.

Para o presidente da CNA, o setor até ficou surpreso com o volume de recursos do atual Plano Safra, que superou o do governo anterior. Algumas coisas, no entanto, não saíram como o agronegócio queria, principalmente no que se refere aos recursos do seguro rural.

Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA, diz que a safra de 2023 é cheia, mas o bolso do produtor está vazio. A safra é recorde, uma vez que o clima ajudou em várias partes do país, mas os preços dos produtos agropecuários recuaram.

Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA
Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA, fala à imprensa - Reprodução

Os custos dos insumos são menores do que os de 2022, quando dispararam após a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas ainda não voltaram aos patamares anteriores.

Mesmo com uma safra recorde de 321 milhões de toneladas de grãos e um aumento na produção de proteína animal, o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio deverá cair 0,94% neste ano, em relação ao de 2022.

Esse cálculo não pode ser comparado com o PIB do IBGE, uma vez que a CNA e o Cepea incluem no PIB não só as atividades dentro da porteira, mas toda a cadeia do agronegócio, que vai da produção de grãos à industrialização dos produtos e ao fornecimento de insumos.

A queda dos preços das commodities afetou a receita de todo o setor. A desaceleração dos preços dos insumos também cooperou para essa queda do PIB, afirma o diretor.

No próximo ano, esse cenário persiste, e o PIB do agronegócio deverá ter pouca evolução, com possibilidade de cair até 2%.

Já o PIB da agropecuária, medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e que leva em consideração o volume produzido dentro da porteira nos setores de lavoura e de pecuária, deverá apresentar alta de 14,5% neste ano e de 1,5% no próximo, na avaliação da CNA. Neste caso, a safra recorde é a propulsora do índice.

O VBP (Valor Bruto de Produção), que é o resultado da produção multiplicada pelos preços recebidos pelos produtores, deverá atingir R$ 1,24 trilhão neste ano, com queda de 2,2% em relação a 2022. Essa taxa de queda se repete em 2024, segundo a entidade.

Martins diz que, "devido à complexidade dos mercados interno e externo, a agropecuária tem de estar cada dia mais preparada e competente para buscar soluções exequíveis dentro de uma racionalidade."

O setor externo, importante para movimentar toda a produção recorde brasileira, está melhor do que no ano passado. O volume exportado cresceu, mas as receitas poderiam ser ainda maiores se os preços internacionais não estivessem em queda.

Mesmo assim, Suemi Mori, diretora de Relações Internacionais da CNA, estima um crescimento de 3% nas receitas. Até outubro, as exportações já somaram US$ 140 bilhões e devem terminar o ano em US$ 164 bilhões. Para 2024, são esperados US$ 172 bilhões.

A balança comercial brasileira do agronegócio neste ano foi auxiliada muito pela maior participação da China e da Argentina. Esta última, devido à quebra de safra, importou 3,98 milhões de toneladas de soja do Brasil até novembro, colocando o país como o quinto maior importador do agronegócio brasileiro.

Até novembro de 2022, os argentinos haviam adquirido apenas 256 mil toneladas. Com as importações deste ano, a Argentina deixou no Brasil US$ 2 bilhões. Já a China importou 71,2 milhões de toneladas até o mês passado, no valor de US$ 37,2 bilhões.

Uma das preocupações do setor é com a legislação antidesmatamento da Europa. As cobranças a partir do final de 2024 têm um impacto de US$ 16 bilhões em exportações para a União Europeia e afetam 356 produtos de 7 cadeias. Entre eles estão café, soja e carne bovina, produtos que o Brasil é líder mundial em exportações.

Sobre o acordo Mercosul com a União Europeia, Suemi diz que não há perspectivas de quando vai ser destravado ou reiniciado. E isso trava outros acordos que estão sendo feito entre Mercosul e outros países.

O agronegócio seguramente vai viver momentos diferentes em 2024. Os preços recordes dos produtos de 2022 estão bem distantes dos atuais. Lucchi afirma, no entanto, que, dependendo da região do país, boa parte dos produtores já não vinha aproveitando esses preços recordes. Muitos venderam seus produtos antes da alta. Outros nem chegaram a produzir, devido ao clima.

Para Lucchi, ainda é difícil avaliar os estragos que o clima vem provocando sobre as lavouras desta safra 2023/24. Só a partir de janeiro é que se poderá ter uma informação mais precisa.

A CNA defende a derrubada do veto sobre o marco temporal e acha que a reforma tributária ficou muito pesada com as modificações no Senado. As entidades do agronegócio querem uma correção das distorções, como o aumento de ICMS em alguns estados.

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