Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Após boa fase, produtor perde renda, mas consumidor paga menos por alimento

Arroz e feijão são dos poucos produtos com tendência de aumento

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O boom dos preços dos alimentos sai das mãos dos produtores agrícolas e agora dá um certo alívio aos consumidores. Após um período de boas margens na venda de seus produtos, os agricultores enfrentam uma fase de forte desaceleração nos preços.

Já os consumidores, que tiveram uma inflação dos alimentos acumulada em 57% de 2019 a 2022, pagaram, em média, apenas 2,7% a mais por esses produtos nos últimos 12 meses, conforme os dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) referentes a janeiro.

O ano de 2022 será inesquecível para os produtores agrícolas, que receberam preços recordes. Formação de estoques para segurança alimentar na pandemia e invasão da Ucrânia pela Rússia elevaram os preços mundiais. O Brasil, que vem acumulando recorde sobre recorde na produção de grãos, tinha commodities para suprir a demanda mundial.

O produtor ganhou com a elevação externa dos preços, e o consumidor pagou caro pelos produtos no mercado interno, que é sempre reflexo do externo. A inflação dos alimentos foi de 15% naquele ano, o dobro da média geral.

Em 2022, a arroba de boi chegou a R$ 352, e agora está em R$ 242. No mesmo período, a saca de milho recuou de R$ 104 para R$ 62; a de soja, de R$ 203 para R$ 111 no Paraná; a de café arábica, de R$ 1.503 para R$ 1.014. A tonelada de trigo, meses após a invasão russa, subiu para R$ 2.211 no mercado interno, mas retornou para R$ 1.235 neste mês.

Sacas de café em armazém em Franca (SP) - Silva Júnior/Folhapress

Os produtores obtiveram os preços recordes em um período em que os custos de produção ainda não estavam tão pressionados como ficaram após a invasão russa. Agora que os preços caem, os custos ainda não voltaram ao patamar anterior.

A pressão menor dos alimentos não ocorre apenas no Brasil. O índice de acompanhamento de preços da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) indicou uma retração de 10% nos preços dos alimentos em janeiro deste ano em relação a igual período de 2023.

Os cereais, devido às quedas de milho e de trigo, estão com retração acumulada de 19% no período; os lácteos, de 18%; óleos vegetais, de 13%, e carnes, de 1,2%. Em sentido contrário, o açúcar tem alta de 16%, segundo a entidade. Produção menor na Índia e na Tailândia e preocupações com a safra brasileira de 2024/25, que tem início em abril, elevam os preços.

Caminhões carregados de cana em Chennai, na Índia - R.Satish Babu/AFP

O mesmo ocorre com o açúcar no Brasil. Após ter pago 92% a mais pelo produto, de 2019 a 2022, o consumidor viu uma alta de 12% nos últimos 12 meses.

São poucos os produtos com tendência de aumento, mas, em alguns casos, essa pressão começa a ceder, como ocorre com arroz e feijão.

Com preços tão elevados, a soja roubou espaço do arroz nos últimos anos e, em 2023, o país teve a menor área de cultivo do cereal da história. O resultado foi uma oferta menor e uma alta de 29% nos preços do arroz dos últimos 12 meses.

A aproximação da colheita e a queima dos estoques da safra anterior já pressionam menos os preços. O cereal, que iniciou janeiro com alta acumulada de 7,3% em 30 dias nos supermercados, terminou o mês com evolução de 4,8%, segundo a Fipe.

O feijão segue o mesmo ritmo do arroz. Com queda de produção na primeira safra, a leguminosa deverá ter oferta maior na segunda. Em janeiro, os preços subiram 8%, após alta de 13% na primeira quadrissemana do mês.

Os panificados, com a desaceleração dos preços do trigo, entraram em deflação. O pãozinho já tem retração de 0,5% no mês e acumula apenas 0,4% de aumento em 12 meses.

Até o fubá, que chegou a subir 112% de 2019 a 2022, devido à elevação dos preços do milho, está com queda de 4,7% nos últimos 12 meses.

Bolo de fubá vendido a R$ 6 na Casa do Norte Missionária, em São Paulo
Bolo de fubá na Casa do Norte Missionária, em São Paulo - Jacqueline Maria da Silva - 15.mar.22/Agência Mural

O óleo de soja, uma das principais altas de preços para os consumidores nos últimos anos, devido à aceleração dos preços internacionais da soja, acumula queda de 26% nos supermercados nos últimos 12 meses. Nos quatro anos anteriores, a alta havia sido de 164%.

Os preços no campo caem também para os hortifrútis. Após chuvas intensas, as colheitas voltam ao normal em várias regiões, elevando a oferta interna. Esse é um setor, no entanto, que está com uma inflação acumulada em 12 meses em patamar elevado. Os produtos "in natura", classificados pela Fipe como frutas, legumes, verduras, tubérculos (batata, cebola e alho) e ovos acumulam alta de 15% de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024.

As maiores pressões vêm das frutas, principalmente da laranja. A redução na oferta na mesa do consumidor, devido aos efeitos de doenças nos pomares, clima e queda na oferta mundial de suco, provocou alta de 33% nos preços da laranja nos últimos 12 meses.

A carne bovina, após desaceleração, ensaia uma leve retomada de preços. A bovina, que iniciou janeiro com queda de 1,2% no acumulado de 30 dias, terminou o mês com alta de 0,7%. As carnes de frango e suína têm taxa de evolução menor em janeiro do que em dezembro.

A queda nos preços do insumos, como milho e soja, reduz o custo de produção. Além disso, a demanda externa está mais fraca, principalmente pela recomposição da produção de carne suína na China.

Além de preços baixos, o campo convive com uma adversidade climática que reduzirá a produção. Por ora, as avaliações sobre o desempenho das lavouras continuam. A quebra de safra e a entrada menor de receitas no campo vão provocar uma redução do PIB (Produto Interno Bruto) do setor, e, consequentemente, da economia geral.

Os preços das commodities estão em queda, mas a definição da safra brasileira e as da argentina e americana, mais tardias, podem alterar esse cenário.

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