Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu alimentação

Preços agropecuários caem no campo em maio e alta do arroz perde fôlego

Discussões sobre cereal são inúteis; governo não importa o que promete e políticos exageram

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os produtos agrícolas, de grande pressão na taxa de inflação, terminaram maio com preços em queda no mercado interno. Até o arroz, que esteve em evidência devido às enchentes no Rio Grande do Sul, teve retração nos preços na última semana do mês.

No mercado externo, soja e milho não tiveram grandes avanços, enquanto o trigo, devido a problemas na safra de países produtores, como a Rússia, voltou a subir na Bolsa de Chicago.

Lavoura de arroz do MST em Viamão, no Rio Grande do Sul
Lavoura de arroz do MST em Viamão, no Rio Grande do Sul - Divulgação/MST-RS

O mês de maio foi um período recorde de vendas de arroz. Assustados com as notícias do Sul, parte dos consumidores correu para os supermercados e acabou fazendo estoque grande do cereal em casa.

Pagaram mais pelo produto e vão manter um estoque de arroz mais antigo pelos próximos meses. Vlamir Brandalizze, analista do setor, diz que os preços começam a perder fôlego. A retirada da TEC (Tarifa Externa Comum), o excesso de compras em maio e a previsível redução das vendas neste mês e no próximo, devido às férias, trouxeram os preços da saca do produto para R$ 115 a R$ 130. O analista lembra que esses preços chegaram a R$ 145.

O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) também indicou desaceleração na última semana de maio. A saca, negociada a R$ 122 em 22 de maio, caiu para R$ 119,6 no último dia do mês.

Mesmo com essa queda, as enchentes no Rio Grande do Sul fizeram o preço do cereal subir 12% no acumulado do mês, segundo o Cepea.

O arroz continua gerando discórdia. O governo errou ao estipular um volume tão alto de importação, coisa que jamais vai conseguir, nem precisa, porque não há desabastecimento. Os políticos entraram em campo e, agora, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) protocolou ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a decisão do governo de importar arroz. Tudo desnecessário.

O trigo, outro produto essencial no dia a dia do consumidor, voltou a reagir e o preço da tonelada foi a R$ 1.484 no Paraná. A alta é uma resposta à área menor de plantio no Paraná e a incertezas no Rio Grande do Sul, os dois principais produtores do país.

A pressão vem também do mercado externo. A Rússia, principal exportadora mundial, terá menos trigo para colocar no mercado internacional, devido à quebra de safra de 12 milhões a 15 milhões de toneladas.

Campo de trigo perto de Rostov (Rússia) - Sergey Pivovarov/Reuters

O preço do milho não reagiu no mês passado. Em Sorriso (MT), uma das principais regiões produtoras do país, a saca se manteve estável em R$ 35, tanto no final de abril como em maio, segundo acompanhamento de preços da AgRural.

Em Cascavel (PR), devido a problemas na safrinha em algumas regiões do estado, a saca foi a R$ 58, com evolução de 6% no mês.

Daniele Siqueira, analista da AgRural, diz que a comercialização interna do cereal ainda está fraca. Em abril, as vendas do centro-sul atingiram apenas 28%, bem abaixo dos 44% de média das últimas cinco safras.

A analista afirma que ainda não há uma pressão de demanda interna e as exportações estão devagar. O Brasil terá uma forte concorrência dos Estados Unidos e da Argentina neste ano no mercado externo. Os preços do Brasil não são competitivos como os desses países.

A soja terminou o mês em alta. Três fatores foram fundamentais para essa evolução de preços: a taxa de câmbio, os prêmios pagos nos portos brasileiros e a reação da oleaginosa em Chicago, segundo Daniele.

A soja vem subindo de preços desde fevereiro no mercado interno e o câmbio deu boa ajuda nessa evolução, tornando o produto brasileiro mais competitivo. A alta dos prêmios de exportação, em queda no no ano passado, ajudou o setor a reagir.

A saída dos chineses do mercado no fim do ano passado e no início de 2024 derrubou os preços. Quando voltaram às compras, o produtor estava segurando as vendas e eles tiveram de pagar mais pelo prêmio de exportação. Apesar da movimentação dos preços para cima, a demanda continua normal, segundo Daniele.

O efeito Chicago ocorreu porque os fundos de investimentos, após intensas vendas de contrato, voltaram ao mercado, elevando os preços na Bolsa. Problemas na safra do Rio Grande do Sul e greve na Argentina também acabaram afetando o mercado de Chicago no mês passado.

O café arábica, em alta nos primeiros meses, perdeu força em maio e registrou queda de 2% no último dia do mês. O conilon recuou 1,7%. A laranja-pera, passada a entressafra, acumula queda de 11% nos dois últimos meses. Os preços atuais, no entanto, ainda são 84% superiores aos de há um ano.

A proteína animal vive uma contradição. As exportações do mês foram recordes, mas os preços mantêm queda. Os dados finais de vendas externas ainda não foram divulgados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior), o que deverá ocorrer na quinta-feira (6).

A arroba de boi gordo, em queda, terminou maio em R$ 221, o menor valor desde setembro de 2023. A média do mês foi de R$ 227, segundo o Cepea. De acordo com a consultoria Agrifatto, a queda nos preços ocorre devido ao excesso de oferta de animais prontos para o abate.

Pastagens desgastadas pelo frio e pela seca fizeram o pecuarista mandar mais animais para o abatedouro. Segundo a consultoria, o escoamento interno de carnes não tem bom desempenho.

O quilo de frango congelado teve redução de 2% no mês passado, para R$ 7, conforme cotações do Cepea.

Já o quilo de suíno vivo terminou o mês em R$ 6,6 em São Paulo, com alta de 6,3% no período.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.