Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Previdência

Câmara faz cara feia para Bolsonaro

Deputados se queixam de excesso de reformas e atacam liderança fraca do governo

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O governo começou mal na Câmara. Há irritação e insegurança com o zum-zum-zum sobre a reforma da Previdência. Mais importante, deputados resolveram dar um "oi, cheguei" para Jair Bolsonaro, pois o presidente não lhes dá trela.

O sururu que misturou reformas amargas com governismo aguado ficou evidente em Brasília e entre os povos do mercado. Não pegou bem.

O presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes
O presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes - Pedro Ladeira - 5.fev.19/Folhapress

Gente esperta e mais curtida de partidos como PP, PSD, DEM e PR resolveu fritar o líder do governo na Câmara, o novato Major Vitor Hugo (PSL de Goiás). Era explícito. Deputados diziam que Hugo não manda nada, não sabe nada do que se passa no governo e é esnobado por ministros importantes. Em suma, disseram que governo e ministros precisam "descer para o play" e conversar, negociar.

Parlamentares do antigo centrão e gente dos reduzidos PSDB e MDB reclamavam também dos novatos do PSL. Para resumir uma queixa comum, se dizia que o pessoal do partido de Bolsonaro tem "sangue nos olhos", que se preocupa demais com "pautas conflituosas", "de costumes", e que assim pode tumultuar o processo já difícil de aprovação de reformas.

Além das pinimbas políticas, os nativos da Câmara também estão inquietos com o rumorejo sobre a reforma da Previdência, mas não apenas.

Pegou mal a ideia de nova reforma trabalhista, reafirmada na terça-feira (5) pelo ministro Paulo Guedes (aquela história de haver dois regimes trabalhistas para jovens, um "verde-amarelo", sem CLT, e o outro com os direitos restantes da lei). "Quem muito quer pouco tem", dizia um representante veterano do centrão.

Outra ideia ou rumor de plano que repercutia mal entre parlamentares, vários deles funcionários públicos ou lobistas da categoria, era a reforma "impiedosa" para os servidores civis, sendo os militares "poupados".

O governo na verdade ainda não apresentou plano formal algum para a Previdência geral (INSS), funcionários civis ou militares. Mas o rascunho vazado da reforma sugeriu que as contribuições dos servidores vão aumentar (o salário vai diminuir), entre outras durezas.

Outro sintoma de clima ruim e boataria, deputados diziam especificamente que o governo vai facilitar a demissão em massa de servidores.

Havia ainda queixas de que "falta diálogo" com o Ministério da Economia ou com um representante graduado do governo e mais informado sobre a Previdência. Um parlamentar dizia que os deputados vão apanhar quando votarem pela reforma, mas que já podem ser acusados de estarem apoiando medidas que "a gente nem sabe o que é ou nem sabe se existe mesmo".

O povo do mercado soube do sururu. É sempre difícil cravar um motivo para idas e vindas cotidianas de Bolsa, dólar e juros, mas o humor no Brasil esteve particularmente mais azedo do que no resto do mundo, onde o dia não foi em geral muito bom.

Era possível ouvir na praça do mercado gente reclamando de que o governo não tem clareza do rumo da reforma que quer e que pode inventar um projeto de tramitação longa e difícil. Convém notar que, até sexta-feira passada (1º), o pessoal achava que estava tudo azul.

Com menos de uma semana de Congresso, adiantar prognósticos é bobagem. Mas os problemas pressentidos desde a montagem do governo ficaram evidentes: sobra ambição nas reformas, falta articulação política e ninguém sabe como o modelo Bolsonaro de relacionamento com o Parlamento vai funcionar.

A notícia é que não tem notícia nisso aí.
 

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