Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Ásia PIB

EUA e China vão pegar gripes ou resfriados e Brasil está com imunidade baixa

Chineses devem crescer menos e americanos precisam frear, o que vai afetar o Brasil

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A economia americana encolheu no primeiro trimestre de 2022. Mas continua superaquecida, com investimento produtivo e consumo privado em alta forte.

Como é possível? Mais sobre isso mais adiante. Mais relevante é saber se será possível conter a inflação nos EUA sem uma desaceleração forte, que pode dar até em recessão a partir de 2023.

A economia chinesa cresceu mais do que o previsto no primeiro trimestre de 2022. Mas março e abril foram meses mais fracos. Há indícios de que o PIB chinês vai crescer menos do que se imaginava neste ano.

Consumidor faz compras em loja da Filadélfia após inflação atingir pico
Consumidora faz compras em loja da Filadélfia, após inflação atingir pico - Hannah Beier - 19.fev.22/Reuters

PIB é assunto tedioso, sim. Mas o que acontece nos EUA e na China terá influência sobre o ritmo da economia e dos preços por aqui também, para começo de conversa.

Em um relatório do final da semana passada, os economistas do bancão Goldman Sachs discutiram o risco de o controle da inflação levar os EUA à recessão.

Quanto mais as expectativas de inflação ficarem descontroladas, maior o risco. Se a falta global de materiais para a indústria e a guerra continuarem a provocar aumentos de preços, maior o risco de "desancoragem" das expectativas.

Quanto mais continuar o aperto relativo do mercado de trabalho (a falta de trabalhadores dispostos a trabalhar por certo salário), maior o risco de "espiral salário-preços". Ou seja, mais inflação leva a mais aumentos salariais além dos ganhos de produtividade, o que provoca nova rodada de reajustes de preços etc.

É incerto se tais pressões, expectativas e salários, vão continuar, por quanto tempo e em que tamanho, diz o pessoal do Goldman Sachs. Mesmo com projeções de que a carestia causada por peste e guerra tende a diminuir, seria preciso também diminuir a pressão altista vinda dos salários. Para tanto, seria necessária uma desaceleração do crescimento do PIB para algo entre 1% e 1,5% ao ano. Nos 16 anos de 2004 a 2019 (com a Grande Recessão pelo meio), a economia dos EUA cresceu 1,2% ao ano.

Não é, pois, um desastre, mas o ritmo cairia muito em relação a 2021 e a menos da metade do crescimento previsto para 2022 pelo FMI (3%). De resto, nem sempre é possível reduzir o ritmo de modo controlado.

Uma queda coordenada, comedida e controlada de PIB e inflação, mais a desaceleração chinesa, derrubaria crescimento e também preços pelo mundo.

Por ora, é o cenário mais tranquilo para a saída dessas crises agudas, peste e guerra. Muito melhor do que uma recessão ou, mais ainda, do que uma crise também financeira causada por um choque de juros nos EUA. Mas o Brasil teria mais uma dificuldade para sair da depressão.

O PIB americano encolheu 0,4% em relação ao trimestre final de 2021. Além de inesperado, foi um número definido por alguns acontecimentos inusuais.

Um modo de calcular o PIB é considerar o que se passa com grandes grupos de despesa: consumo privado, consumo do governo, investimento em aumento de capacidade produtiva (casas, máquinas etc.), e a diferença entre importações e exportações, afora um ajuste de estoques (o que foi produzido e "guardado").

O PIB americano caiu porque as importações (compras de bens e serviços de outros países) foram muito maiores do que as exportações. Pode ser sinal de economia superaquecida ou com dificuldade temporária de abastecimento no exterior (por causa dos problemas causados pela epidemia). Pelo que dizem analistas americanos, calhou também de muita importação atrasada chegar no primeiro trimestre. As empresas também viram esvaziar seus estoques (talvez também por falta de insumos).

Ainda não é sinal de recessão, nem de longe. Mas desaceleração haverá. Resta saber se a mudança de ritmo vai dar em tombo feio ou não.

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