Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Selic juros copom

Sem o otimismo de março, Banco Central diz que arrocho ainda vai longe

Autoridade monetária afirmava que aperto monetário ia acabar neste mês. Não deu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O arrocho vai continuar, como era previsível. O Banco Central aumentou a taxa básica de juros, a Selic, de 11,75% para 12,75% ano, como havia jurado em meados de março. Mas, então, muito otimista, dissera que a onda de aperto terminaria neste mês.

Não vai dar.

Haverá pelo menos mais um aumento, na reunião de 15 de junho, a não ser que a paz baixe na Ucrânia, chova maná do céu e o coronavírus desapareça da China —e olhe lá.

Para quanto vai a Selic? Para começar, provavelmente a 13,25%, no mês que vem e a 13,75% em setembro. No mínimo.

Fachada do Banco Central, em Brasília - Leonardo Sá/Agência Senado

O próximo governo vai começar com um peso ainda maior nas costas. Se disser muita bobagem na campanha e na "transição", pode arruinar suas possibilidades de sucesso logo de cara.

O maior aperto de juros desde 2013-2015 só acaba quando termina, escreveu a direção do BC no comunicado da sua decisão desta quarta-feira: "... é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista" ... "até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".

O arrocho vai até que a expectativa de inflação de 2023 volte para a meta. Tem chão ainda.

O que pesa, de mais negativo, além da inflação ainda fora de controle e imprevisível? Carestia mundial e risco de a dívida pública crescer sem limite (sabe-se lá o que será da política econômica que sairá das urnas e se o próximo governante do Brasil terá algo dentro da cabeça).

O que poderia atenuar altas de juros futuras? Preço de commodities e dólar em baixa; economia crescendo ainda menos do que o previsto para 2022 (0,7%) e para 2023 (1%).

Parte grande da inflação está fora do controle dos bancos centrais, a não ser que decidam promover uma recessão profunda como os infernos. Por ora, não parece ser nem de longe a intenção do BC mais importante do mundo, o americano, que nesta quarta-feira afirmou que não vai acelerar a alta de juros por lá.

Além das agruras domésticas de cada freguês, há dois problemas internacionais desembestados.

Um deles é a Guerra da Ucrânia, com implicações já muito sabidas sobre preços de energia e comida. Não se tem ideia de quando a guerra vai terminar ou quando haverá fontes alternativas de energia bastantes para atenuar o dano econômico básico e mais imediato do conflito.

A outra fonte de inflação é a política de "Covid zero" na China, país que é a oficina básica da indústria mundial. Se a produção chinesa é interrompida por "lockdowns", há desabastecimento de produtos finais, peças e outros insumos industriais.

Desde meados de 2020 se diz que, "daqui a uns seis meses", o abastecimento vai voltar ao normal. O próximo prazo a ser descumprido agora é o início de 2023. Até lá, essa pressão inflacionária continua.

Para piorar, a inflação para o consumidor na maior economia do mundo está além de 8% ao ano, em parte por causa de aperto no mercado de trabalho. A carestia e o superaquecimento da economia americana contaminam preços pelo mundo.

Nesta quarta-feira, o Fed, o Banco Central americano, elevou a taxa de juros básica deles para a faixa de 0,75% a 1% ano, em um raro aumento de meio ponto percentual. É possível que a taxa vá a 2,75%-3% até o final do ano. Muito? A taxa real de juros (ex post) ainda estaria muito negativa. A inflação passou de 2,6% ao ano em março de 2021 para 8,5% em março de 2022.

Além de saber o que vai ser da inflação mundial, a questão agora é ver se os EUA vão ser capazes de atenuar o aumento de preços sem embicar para a recessão.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.